Acredite quem quiser: a
presidenta reeleita, Dilma Rousseff, tentou, na reunião do G-20 na Austrália,
da forma canhestra que lhe é habitual, tirar proveito da notícia da prisão de
empreiteiros na sétima etapa da Operação Lava Jato. Como se esta fosse uma obra
de sua administração, a exemplo do PAC, do Bolsa Família e do Minha Casa, Minha
Vida. Em sua peculiar versão sobre os fatos da atualidade, teve o desplante de
exaltar como mérito do próprio governo o fato de agora se investigar a
corrupção "pela primeira vez na História do Brasil".
Como diria Jack, o
Estripador, vamos por partes. Primeiramente, a roubalheira na Petrobrás é, sim,
e disso ninguém tem mais como discordar, o maior escândalo de corrupção da
História do Estado brasileiro, desde que o português Tomé de Souza desembarcou
na Bahia para ser nosso primeiro governador-geral. Nada se lhe compara em
grandeza de valores, vileza de ações e resultados funestos para uma empresa
criada para tornar concreto o lema da esquerda nos anos 50 do século passado -
"o petróleo é nosso". O petróleo, descobriu-se agora, não é nosso, é
deles: do PT, dos partidos da base, de desavergonhados funcionários de carreira
da petroleira e de doleiros delinquentes.
Ainda não apareceram
indícios na investigação de que Dilma e seu antecessor na Presidência, Lula da
Silva, tivessem tirado algum proveito financeiro do butim. Mas não há mais
dúvidas de que ambos estavam a par de tudo. Sabe-se disso não apenas por ter o
doleiro Alberto Youssef, um meliante de terceira categoria do Norte do Paraná,
contado em delação premiada a agentes federais e promotores. Há provas
documentais e históricas, como acaba de revelar o Estado: em 2009, o Tribunal
de Contas da União (TCU), no exercício de sua assessoria ao Legislativo, avisou
o Congresso que não permitisse o repasse de R$ 13,1 bilhões à Petrobrás porque
seus fiscais haviam auditado irregularidades em obras da estatal. O Congresso
proibiu, Lula vetou a decisão e mandou dar dinheiro às obras suspeitas.
É fato que a oposição não se
pode jactar de ter sido a responsável pela revelação do escândalo do petrolão
nem dos casos que o antecederam: o mensalão e a execução do prefeito de Santo
André e então coordenador de programa de governo da campanha de Lula à
Presidência em 2002, Celso Daniel. A descoberta de documento de um
"empréstimo" de R$ 6 milhões do operador do mensalão, Marcos Valério
Fernandes, a um dos protagonistas do escândalo de Santo André, Ronan Maria
Pinto, pela Polícia Federal (PF) nos papéis apreendidos em mãos de Meire Poza,
contadora de Youssef, desvendou a conexão entre os três casos. Valério disse há
dois anos que deu essa quantia ao empresário de ônibus para sustar chantagem
dele contra Lula. O papel é uma evidência de que o mensalão não serviu apenas
para comprar apoio de pequenos partidos no Congresso ao governo, mas também
para afastar suspeitas de envolvimento da cúpula da gestão federal e do PT não
na execução de Celso Daniel, mas no acobertamento dos verdadeiros assassinos,
protegidos pela versão da polícia paulista, sob égide tucana (sem aval do
Ministério Público), de que o crime teria sido ocasional.
Dilma também anunciou em
Brisbane que a Lava Jato pôs fim à impunidade. Bem, aí depende! A impunidade no
Brasil já teve um grande baque com as condenações do mensalão. Graças ao
relatório de implacável lógica de Joaquim Barbosa, políticos tiveram a inédita
sensação de eleitores serem iguais a eleitos perante a lei. As diferenças na
execução penal, contudo, mostram que essa igualdade continua relativa: a
banqueira, os advogados e o publicitário continuam na cadeia e os insignes
companheiros que tinham mandato ou ministério estão "presos" em casa.
A prisão dos empreiteiros
mostra que a delação premiada é mesmo pra valer. Mas os políticos eventualmente
delatados ainda continuam soltos.
JOSÉ NÊUMANNE
Quinta-feira, 20 de novembro,
2014
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