Quem
tem amigos do peito como a Venezuela não precisa de inimigos. Em circunstâncias
nebulosas, sem o conhecimento de Brasília, o governo de Caracas firmou com o
MST, na cidade paulista de Guararema, convênios pelos quais se compromete a
ensinar o povo brasileiro a "seguir avançando na construção de uma
sociedade socialista". Muitos dias depois, na última quarta-feira, o
governo brasileiro finalmente protestou junto aos muy amigos. Não
necessariamente pelo conteúdo dos tais convênios, mas porque o ex-chanceler e,
desde setembro, ministro do Poder Popular para as Comunas e os Movimentos
Sociais, Elías Jaua, veio ao Brasil para assiná-los sem informar o Itamaraty. E
ainda andou se metendo em confusão policial. Uma típica trapalhada bolivariana.
É
de imaginar que os petistas tenham ficado aborrecidos com a falta de
consideração dos venezuelanos, que, se tivessem sido menos egoístas e mais
solidários, teriam possibilitado a realização de um magnífico evento popular em
Guararema, talvez até com a presença de Lula com o boné do MST e falando mal da
elite.
Mas,
diante de uma desfeita que não se pode ignorar nem quando se trata de amigos
fraternos, o chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, depois de ouvir a
presidente Dilma Rousseff, convocou o encarregado de negócios da Venezuela no
Brasil, Reinaldo Segovia (o embaixador está viajando), para comunicar a
"estranheza" do governo brasileiro com o comportamento de Jaua,
reclamar que o lamentável episódio pode significar uma "interferência nos
assuntos internos do País" e cobrar explicações do governo de Caracas.
Para Figueiredo, "o fato não se coaduna com o excelente nível das relações
entre os dois países".
Os
convênios foram assinados no fim do mês passado, numa escola do MST onde são
ministrados cursos de formação política para militantes de movimentos sociais.
Segundo a organização, os tais convênios com os venezuelanos objetivam apenas
"a troca de experiências na área da agroecologia". O governo
venezuelano, porém, conta uma história diferente.
No
dia 28, antes mesmo do regresso de Jaua a Caracas, o governo bolivariano
anunciou aquilo que nem o Palácio do Planalto sabia: "No marco da visita
ao Brasil do vice-presidente de Desenvolvimento do Socialismo Territorial,
Elías Jaua, foram assinados (...) vários acordos nas áreas de formação e
desenvolvimento da produtividade comunal entre o Governo Bolivariano" e o
MST. E a nota acrescentava que, segundo Jaua, os convênios têm como objetivo
incrementar o intercâmbio de experiências para "fortalecer o que é
fundamental em uma revolução socialista, que é a formação, a consciência e a
organização do povo para defender suas conquistas e seguir avançando na
construção de uma sociedade socialista".
-Não
ser novidade se em breve a guerrilha ser instalada no brasil liderada pelo MST
com o beneplácito do PT, como também o controle dos meios de comunicação e a
internet. Alguns provedores de conteúdo já está passando por problemas quando alguém
tenta acessar.
O
fato de o Itamaraty ter demorado pelo menos uma semana para se manifestar sobre
uma inadmissível interferência nos assuntos internos do País sugere que o
governo petista estendeu até o limite a possibilidade de botar panos quentes na
situação. Era só o que faltava para quem assistiu passivamente ao calote que o
finado Hugo Chávez deu no contrato de parceria na construção da Refinaria Abreu
e Lima, em Pernambuco. Gente fina.
O
ESTADO DE S.PAULO - 08/11
Sábado,
8 de outubro, 2014
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