Maior
grupo empresarial de carnes do mundo e principal doador da campanha eleitoral
realizada neste ano no País, o frigorífico JBS, da marca Friboi, faz lobby
contra a indicação da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) para comandar o Ministério
da Agricultura no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
O
empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo, esteve na quarta-feira com o
chefe da Casa Civil do governo, Aloizio Mercadante, com quem tratou do tema em
uma reunião reservada, fora da agenda oficial do ministro.
O
JBS doou ao todo R$ 352 milhões nas eleições de 2014, segundo o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), dos quais R$ 69,2 milhões foram destinados à campanha
de Dilma à reeleição. Também desembolsou R$ 61,2 milhões aos postulantes a uma
vaga na Câmara dos Deputados e R$ 10,7 milhões aos candidatos ao Senado.
Apesar
do volume aplicado na bancada ruralista, Kátia Abreu, que tentou e conseguiu
renovar seu mandato de senadora pelo Tocantins, não recebeu nenhuma doação do
JBS.
Presidente
da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), ela é uma das
principais lideranças do agronegócio no País, o que lhe ajudou a arrecadar
quase R$ 7 milhões neste ano – incluindo doação de R$ 100 mil realizada pelo
frigorífico Minerva, concorrente do JBS.
O
lobby do maior frigorífico do mundo explicita uma guerra nos bastidores sobre o
comando na Agricultura. Como representante dos pecuaristas, a senadora assumiu
uma posição de ataque à empresa de Batista. Os criadores de gado temem a concentração
de mercado que a empresa exerce cada vez mais, influenciando no valor da carne
vendida por eles. O grupo JBS é responsável por cerca de 20% do abate bovino no
País. O peso do frigorífico na formação de preço é uma das explicações para a
acidez da senadora contra a empresa.
O
clima entre Kátia e Batista ficou ruim depois que a senadora acusou de
antiética a campanha publicitária do JBS sobre a segurança sanitária
representada pela Friboi. Em discurso no Congresso, em agosto de 2013, a
senadora protestou: “Vá e diga que a sua carne é boa, que tem boa qualidade,
que é produzida em frigoríficos de primeira. Mas não diga que é a única que o
povo brasileiro pode comer.”
Influência
O
Ministério da Agricultura acumula uma série de decisões favoráveis ao JBS.
Todas adotadas pela Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA), cujo titular,
Rodrigo Figueiredo, é apadrinhado do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha
(RJ). O parlamentar peemedebista, que hoje vive às turras com o governo Dilma,
chegou a assinar um ofício indicando Figueiredo para o cargo em 6 de junho de
2013.
Em
outubro deste ano, a Justiça impôs derrota ao ministério por ter beneficiado o
JBS. Determinou a aplicação de multa diária de R$ 100 mil caso não fosse
suspensa uma limitação à exportação pelos Entrepostos de Carnes e Derivados
(ECDs), operados por pequenos frigoríficos, conforme determinado pela SDA.
Agricultura acatou a decisão.
Em
setembro, menos de dois meses após proibir o uso de expressões como “especial”
e “premium” em rótulos de carne, a SDA desobedeceu a própria regra para atender
demanda do JBS. Empresa e ministério não se manifestaram sobre os benefícios. A
direção do grupo confirma a reunião com Mercadante, mas nega que esteja fazendo
lobby contra a senadora.
Balaio
A
resistência do JBS vem se juntar às reclamações do PT e de movimentos sociais
contra Kátia Abreu. Na lista de insatisfeitos reúne os mais diferentes campos
ideológicos. A conservadora União Democrática Ruralista (UDR), por exemplo,
também é contra a indicação.
Apesar
das resistências, Kátia Abreu vai ser anunciada oficialmente ministra da
Agricultura – algo que já está decidido há algumas semanas por Dilma, segundo
assessores do Planalto – logo após o dia 15 de dezembro. É que nessa data ela
tomará posse como presidente reeleita da CNA – se fosse indicada ministra
antes, não poderia assumir o cargo na entidade de classe.
(Nivaldo Souza e Erich Decat, do jornal O
Estado de S. Paulo).
Terça-feira,
02 de dezembro, 2014.
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