Por
maiores elogios ao desenrolar ordeiro e ordenado da sessão do Senado que em
mais de vinte horas aprovou a admissibilidade do processo de impeachment da
presidente Dilma, a verdade é que o país presenciou outra marcha da decadência.
Menos pelos excessos e abusos verbais de parte dos senadores, mais porque
afastar quem ocupa a suprema magistratura da nação revela a fragilidade das
instituições.
Importa
menos saber as causas reais do afastamento de Madame, desde o fracasso da
política econômica à sua arrogância e presunção até o desprezo com que tratou o
Congresso. Mais grave é assistir o Brasil no fundo do poço, com quase doze
milhões de desempregados, a paralisação das atividades produtivas, a
imobilização dos deveres do poder público e o abandono da população.
Não
será a ascensão de um governo provisório incapaz de recuperar tempo e espaços
perdidos, ainda mais pelo retrocesso que se anuncia com o retorno de concepções
elitistas e neoliberais. Em especial porque para ser afastada em definitivo
Dilma precisará da condenação de 54 senadores, sobre 81, quando seus
adversários obtiveram apenas 55 para escanteá-la. Dois senadores que sejam,
mudando o voto, restabelecerão seus poderes em plenitude, depois de longo e
penoso julgamento.
O
embate não terminou, apesar da euforia dos vencedores de ontem. Voltam-se as
atenções para as primeiras iniciativas de Michel Temer, depois da frustração
que foi o anúncio de seu ministério.
O
Brasil continuará dividido, na realidade girando em círculos e entregue às
mesmas fantasias de sempre, como agora que cresce outra vez a proposta de
adoção do parlamentarismo. Trata-se de um engodo que apenas interessa ao Congresso. Dois plebiscitos numa só geração
demonstram que a nação é contra. Em meio à corrupção permanente que atinge a
classe política, seria correto entregar mais prerrogativas aos deputados?
As
reformas de base poderiam ter sido adotadas pelo Lula, num de seus dois
governos. Dilma também não avançou. Conseguiria um presidente provisório
sucesso?
Em
suma, haverá que aguardar, inclusive pelas eleições municipais de outubro. Com
o PT devolvido à oposição, resta saber quando o novo presidente Michel Temer
receberá seus primeiros panelaços.
Carlos
Chagas
Sexta-feira,
13 de maio, 2016
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