Setores,
celebridades, personalidades e outros segmentos menos badalados de nossa terra
andam fazendo um escarcéu pelo fato de o ministério Temer haver absorvido as
atividades relativas à cultura ao reinseri-las no Ministério da Educação.
Ora,
o episódio não reclama esse barulhão nem as campanas que anarquistas aproveitam
para uma agitação a mais nessa quadra já efervescente de nosso quotidiano.
A
função cultural exerce, sim, diligências importantes para o aprimoramento de um
povo e para manutenção da identidade nacional. Tudo dependerá das iniciativas e
do preparo do titular da recém criada Secretaria de Cultura. Por isso, não será
uma providência de mera racionalização administrativa que a agora Secretaria de
Cultura terá embargada sua função em nosso país. A imprensa já noticiou que o
novo secretário solicitou do tesouro a cifra próxima a um bilhão de reais para
a continuidade de suas políticas.
A
movimentação ruidosa pela providência por que protestam os autores, visando o
recuo do governo, repercute nos meios de comunicação mais pelo fato de as
reclamações partirem e se agruparem em nomes e setores que se encontram todos
os dias com a população na mídia impressa e eletrônica.
Tais
nomes e grupos, com certeza, agiriam mais em benefício do povo (sempre invocado
em reclamações e pirraças), se insistissem também, ou principalmente, para
exigir o cumprimento da obrigação constitucional e cívica da erradicação do
analfabetismo no Brasil. Acentuava aquele constituinte patriota perdido no
fundo do oceano que a cidadania começa com o alfabeto, e os analfabetos contam
hoje 25.000.000, e continuam prisioneiros de si mesmos, da insensibilidade de
muitos e da incompetência que domina nossa pública administração.
Da
mesma forma, estes líderes e porta-vozes em defesa de nossa cultura seriam
respeitados se, da mesma forma (quem sabe um panelaço?), exercessem uma vigília
em favor dos brasileiros famintos, dos miseráveis e esquecidos, dos que ainda
não conhecem o conforto da eletricidade, dos que, em subhabitações, se expõem
aos riscos da morbidez causada pelos esgotos a céu aberto. Estas vozes, se
assim fosse, certamente seriam ouvidas, certamente constrangeriam o governo,
certamente obteriam resultado mais proveitoso. Não podemos fantasiar a nossa
realidade impiedosa.
Alguns
chegam a gritar que o país deve seguir o exemplo de outros, que prestigiam o
setor cultural.
Não
é bem assim. O prestigioso Ministério de Cultura da França, por exemplo, sempre
lembrado a guisa de modelo, é fruto de uma cultura estruturada e adquirida ao
longo de 1.500 anos, melhor iniciada com a dinastia merovíngia. Na França, sim,
se cogitassem de suprimir aquele órgão consagrado por gerações, o governo viria
abaixo. Lá, a cultura é tão valiosa quanto o pão, e brioches e baguettes valem
tanto quanto um ingresso para a Ópera. No campo cultural há entre nós um
Malraux, um Jack Lang ou um Duhamel ?
No
Brasil, o Ministério da Cultura foi criado no governo Sarney, um intelectual
sensível à importância da pasta. Seus titulares, a bem da verdade, não refletiram
na ação as necessidades da missão, citando Gilberto Gil, que, à frente daqueles
altos encargos, cantava e tocava mais que atendia aos foros culturais.
Presidente
Temer, não repita este erro, pedimos nós.
José
Maria Couto Moreira é advogado.
Sábado,
21 de maio, 2016
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