O
tumultuado e inconcluso processo de impeachment da presidente Dilma Roussef
remeteu ao segundo plano campanhas municipais prestes a serem colocadas nas
ruas, em 5.570 municípios, envolvendo mais de 142 milhões de eleitores.
Sem
desmerecer os demais estados, São Paulo é que atrai as atenções do País.
Considera-se o prefeito paulistano o terceiro político de maior importância no
Brasil, superado pelo governador do Estado e pelo presidente da República.
O
diferencial da disputa, em 2016, residirá na escassez de dinheiro. Quem não
dispuser de recursos estará em posição de inferioridade, salvo se compensar a
falta de meios próprios com excesso de popularidade. Mesmo quem dispõe de caixa
não poderá gastar além dos limites, para não ser acusado de abuso de poder
econômico.
Refletindo
sobre o cenário que se aproxima, percebemos que o Partido dos Trabalhadores,
após anos de hegemonia se esfarelou atingido por ações penais que enviaram à
prisão alguns dos principais quadros. Luís Inácio Lula da Silva perdeu a liderança
que infundia temor aos adversários. Voltou a ser a pessoa comum que se tornou
conhecida na década de 70, mas hoje acossado por graves acusações. O apoio que
eventualmente oferecer aos candidatos do PT provavelmente surtirá efeito
adverso. Dilma Roussef, a presidente afastada pelo Senado, não tem como fazer
campanha. Empregará o tempo que lhe resta para se defender.
O
PMDB, com o Dr. Michel Temer na presidência da República e importantes
ministérios, dependerá das medidas que adotar na esfera social, onde se
encaixam questões de previdência, saúde, educação, desemprego. Tornou-se, por
vontade própria, herdeiro de trágica realidade. Se nos próximos dias a economia
não der sinais claros de reaquecimento, e a falta de trabalho persistir, com 12
milhões de desesperados nas ruas, o discurso peemedebista terá dificuldades
para angariar o apoio das urnas. Não há nada tão leviano quanto o voto. Quem
vive de salários mudará de rumo de acordo com as condições do bolso, e a
eloquência de algum demagogo.
O
PSDB é o que já se conhece. Adquiriu a fama de elitista. Jamais buscou
popularidade e, aparentemente, nunca se preocupou com isso. Acredita no capital
eleitoral dos integrantes da cúpula. Reside aí, entretanto, seriíssimo
problema, pois pelo menos três aspiram a candidatura à presidência em 2018, e
lutarão para consegui-la. Veja-se o acontecido em São Paulo, onde os tucanos
mais uma vez se encontram divididos.
As
demais legendas pouco acrescentam. Algumas são idôneas, dirigidas por pessoas
sérias, mas sem recursos e compactas massas eleitorais, que lhes permitam ir à
luta de maneira independente. Dependem de precárias alianças. Outras são casas
comerciais. Vendem a quem pagar mais. A ruidosa extrema esquerda mais uma vez
concorrerá sem chance de vitória. É vítima de teimosia que a impede de entender
que pertence a passado morto e sepultado.
As
campanhas municipais se desenvolverão em torno de dois eixos: o compromisso de
combate à corrupção que tomou conta do País, e a luta contra o desemprego.
Conforme alguém escreveu, “Os trabalhadores têm que comer tenham ou não
colocação. Há a alternativa de deixar morrer de fome os desempregados, mas isto
é mais duro do que tolerariam os propugnadores de finanças seguras, portanto
advogam que se sustentem os desempregados mediante subsídios, em que eles não
produzem nada, em vez de lhes dar uma ocupação profícua em que acrescentarão
diretamente ao rendimento nacional. É a divergência entre os princípios da
economia social e particular que fornece a chave das inconsistências das
finanças ditas seguras”.
O
presidente Michel Temer está no comando. A escolha de banqueiros para a
recuperação das finanças tem algum significado. Espero que a questão do
desemprego seja encarada como tragédia social, e não mera estatística divulgada
pelo IBGE. Afinal, o desempregado deve comer diariamente, e prover o sustento
da família. São necessidades que não podem esperar. A miséria, como se sabe,
não é a melhor conselheira.
*****Almir Pazzianotto Pinto
é advogado; foi Ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do
Trabalho.
Terça-feira,
24 de maio, 2016
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