Há
25 anos, o Plano Real foi lançado como uma aposta arriscada, mas foi bem-sucedido,
controlou a inflação e ajudou a modernizar o Brasil
Em
maio de 1993, Fernando Henrique Cardoso foi convidado pelo presidente Itamar
Franco a trocar o posto de ministro das Relações Exteriores pelo cargo menos
cobiçado do governo: ministro da Fazenda. Era o quarto ministro em sete meses.
O brasileiro via o dinheiro perder o valor. Itamar incumbiu FHC de uma missão
clara, mas brutal: banir a inflação e controlar o câmbio para retomar o
progresso.
FHC
consultou os economistas do PSDB, e concluiu que a solução era criar uma moeda
estável, que batizaria de real. Convocou os economistas do partido. O primeiro
foi Edmar Bacha, que relutou em aceitar, pois trabalhara no fracassado Plano
Cruzado. Mas entrou para a equipe como assessor. “Os cardeais do PSDB disseram
que era uma missão partidária”, diz Bacha
A
missão do núcleo tucano em um governo de coalizão sofreu percalços. Em
setembro, Itamar exonerou Paulo Ximenes do Banco Central, à revelia de FHC.
Bacha ameaçou sair. Foi quando FHC obteve carta branca de Itamar. “Foi o ponto
de virada”, diz.
Etapas
da jornada
A
equipe se consolidou. Pérsio Arida foi convidado para presidir o BNDES. Só
aceitou se pudesse evitar o “feijão com arroz”: “Se fosse para fazer um plano
de estabilização de verdade, a conversa era outra”. Gustavo Franco se
incorporou como secretário adjunto, mas pensou que não duraria no cargo. “Tinha
algo na sociedade como ‘por favor, mais um plano não’ e ‘pelo amor de Deus,
resolvam a inflação’”, afirma. “Foi uma aventura. ”
O
ambiente da elaboração era, segundo Bacha, “extremamente estressante”. Os
políticos pressionavam para o lançamento do plano antes das eleições de 1994.
“Eles sabiam que seriam eleitos se liberássemos uma poção mágica”, diz.
Lançar
a moeda foi o passo inicial. O segundo parecia intransponível, pois visava a
controlar um monstro em pleno voo: a inflação. Muitos duvidaram. Acadêmicos
previam que a conversão dos contratos para real levaria três anos. Mas a equipe
fez isso em três meses. “Os resultados foram incríveis”, afirma Arida. Ele os
atribui a um “exemplo de boa engenharia política” que convenceu e dialogou com
a população – que, apesar de cética, abraçou a moeda. “Conforme progredíamos, a
excitação de fazer algo histórico era incrível”, diz Franco.
“O
Plano Real, ao invés de surpreender o povo com medidas inesperadas, anunciou o
que seria feito e cumpriu”, afirma FHC por ocasião do jubileu da jornada que o
levou à Presidência da República no ano seguinte.
Bacha
lembra de uma comissão que integrou na Câmara dos Deputados, em que a
economista Maria da Conceição Tavares, do PT, proferiu: “Se vocês conseguirem
acabar com a inflação, ganham o Nobel. Se não, que fujam para Harvard!” Não
receberam o Nobel, mas entraram para a História. (IstoÉ)
Domingo,
07 de julho, 2019 ás 12:00
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