Um
lugar-comum da política diz que o governante se beneficia ao lançar sua
candidatura à reeleição apenas na reta final do mandato. Jair Bolsonaro não
seguiu essa lógica. Não é uma surpresa, já que quase todas as suas ações têm
sido marcadas pela improvisação e pela falta de racionalidade. Em apenas quatro
meses, se lançou às eleições de 2022. Ainda embalado pela alta popularidade e
pelo ambiente polarizado, surfou em 2019 como nome imbatível para permanecer no
Planalto até 2026. Certamente é o principal nome da corrida, mas há vários
sinais recentes de que o Brasil pode ter um novo cenário daqui a três anos.
Entre
as incertezas, inspira dúvidas a saúde fragilizada do presidente — um problema
que ele mesmo não cansa de ressaltar. Como problema central, Bolsonaro é
incapaz de criar alianças, o que faz o risco de um impeachment assombrá-lo
permanentemente — outro tema recorrente de suas falas. O mandatário ainda é um
franco-atirador bonapartista que se fia no apoio popular para suas causas,
driblando o Congresso. Este ainda está do seu lado por ele ter ampliado a
distribuição de verbas no varejo e encarnar bandeiras majoritárias. Mas isso
vai declinar ao longo do mandato e começam a surgir dúvidas na base sobre sua
fidelidade a temas como o combate à corrupção, que ele encarnou mesmo sem
merecer. As seguidas rasteiras no ministro Sergio Moro e o abandono das
trincheiras da Lava Jato para proteger seus filhos trincaram sua imagem pública
e o desgastaram entre seus militantes — a bancada no Congresso já havia sido
implodida pela própria família Bolsonaro. Há menos adesão nas redes e cresce o
desgaste do “gabinete do ódio”. O tom do presidente desde o final do ano
passado é mais contido, cauteloso e acuado.
Hoje
há bem menos confiança na estabilidade da administração Bolsonaro. Por isso, é
fundamental ao presidente manter a adesão de Moro, ainda a figura mais popular
do governo, e torcer para que a agenda do ministro Paulo Guedes avance. Isso,
no entanto, ainda não está dado, já que as reformas dependem do Congresso, e o
mercurial titular da Economia ainda não acertou de fato o passo com os
parlamentares — basta ver sua hesitação em referendar a essencial Reforma
Tributária. É muita dependência, o que fragiliza Bolsonaro e pode abrir seu
flanco para nomes mais moderados. Ainda há muito tempo para que seja definido o
panorama das próximas eleições presidenciais, mas a figura chave cada vez mais
parece ter queimado a largada.
Ainda
há muito tempo para que seja definido o panorama das próximas eleições
presidenciais, mas Bolsonaro cada vez mais parece ter queimado a largada
(IstoÉ)
Sábado,
11 de Janeiro, 2020 ás 18:00
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