No
jogo de gato e rato que trava com Sergio Moro, Jair Bolsonaro se deu conta de
que pode ter mais a perder do que o seu ministro. Menos de 24 horas depois de
declarar que cogita desmembrar o Ministério da Justiça, retirando de Moro a
área da Segurança Pública, Bolsonaro afirmou que a chance de algo assim
acontecer "é zero". Diz-se que o presidente recuou. Engano. Na frase
seguinte, Bolsonaro esclareceu que essa é apenas a sua posição momentânea.
"Não sei o amanhã, porque na política tudo muda", disse ele.
Entre
uma posição e outra, Bolsonaro foi submetido a uma avalanche de críticas nas
redes sociais, seu habitat natural. Os gênios que cercam Bolsonaro no Planalto
começaram a fazer em voz alta uma pergunta singela: o que acontecerá se Sergio
Moro chamar o caminhão de mudança e sair batendo a porta? A pergunta indica que
Bolsonaro meteu-se numa enrascada.
Tendo
ciência de que o passado político da primeira-família estava encostado em
rachadinhas e nas relações perigosas com Fabrício Queiroz e milicianos do Rio,
Bolsonaro chamou o xerife da Lava Jato para cuidar do combate à corrupção e ao
crime organizado. Agora, tenta cortar as asas de Moro. Ironicamente, o ex-juiz
contribui para a própria fritura. Moro esqueceu de traçar limites a partir dos
quais ele não recuaria. Sofre calado uma sequência de humilhações.
No
caso de Sergio Moro, Bolsonaro evolui da fritura para o esquartejamento.
Arrancou-lhe o braço do Coaf. Manteve os dedos da direção-geral da Polícia
Federal, mas substituiu o anel da superintendência da PF no Rio de Janeiro,
onde Flávio Bolsonaro enfrenta sua tormenta judicial. Quebrou o pé do ministro
ao sancionar o juiz das garantias. Agora, adia a amputação da Segurança Pública
por razões estratégicas.
Quem
olha de longe fica com a impressão de que Bolsonaro e Moro, ambos infectados
pelo vírus de 2022, perdem o rumo. Engano. Há um rumo na encrenca. O rumo da
crise. O risco que Bolsonaro corre é o de inverter o jogo. Chamou Moro para o
governo com o argumento de que daria a ele condições para melhorar sua
biografia. Agora, oferece a Moro a oportunidade ganhar respeito pedindo o boné.
(Uol Notícias)
Sábado,
25 de janeiro, 2020 ás 10:00
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