BRASÍLIA - Depois da reviravolta
de ontem (27/2) no Supremo, que agora não reconhece mais o crime de quadrilha
no mensalão, o foco está em dois personagens principais e antagônicos: o
condenado José Dirceu e o algoz Joaquim Barbosa.
Dirceu foi citado pela
Procuradoria Geral da República, pelo então relator Barbosa e pela maioria do
antigo Supremo (aquele que condenou) como "chefe de quadrilha" --e
condenado como tal pelos indícios e pelo conjunto da obra, mesmo sem provas factuais.
E agora? Se não existiu quadrilha, como Dirceu pôde ter sido chefe de
quadrilha?
Além da redução de pena e da
troca do regime fechado pelo semiaberto, Dirceu está em condições de dar um
outro drible na condenação, aproveitando o novo equilíbrio interno no Supremo:
a "revisão criminal".
Significa entrar com recurso para
uma nova apreciação das outras condenações, mesmo depois de tramitado em
julgado. Está previsto no Código do Processo Penal e no Regimento Interno do
STF. Você aí, então, pode ir se preparando para a absolvição e, da absolvição,
para a santificação.
Vitória de Dirceu, derrota de
Joaquim Barbosa. Visivelmente abatido, trocando a arrogância de outros tempos
pelo ar de desânimo, ele disse que foi "uma tarde triste para o
Supremo" e considerou que "todo o trabalho foi lançado por
terra".
Joaquim conquistou amor e ódio
como relator do mensalão e depois como primeiro presidente negro do Supremo.
Virou um personagem nacional, despertou a cobiça de partidos políticos, achou
que estava fazendo história --e talvez estivesse, e esteja, mesmo. Mas vale
para ele a mesma pergunta feita para Dirceu, às avessas: e agora? Como conviver
como minoria num tribunal onde foi maioria? Pior: como deixar de presidir e
passar a ser presidido justamente por Lewandowski em novembro?
Assim como Dirceu é candidato a
ex-condenado, Joaquim Barbosa bem pode se tornar candidato a senador,
presidente... E a luta continua.
Por: ELIANE CANTANHÊDE FOLHA DE SP.
Sexta-feira, 28 de fevereiro, 2014.
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