Do garoto preso pelo pescoço com
uma tranca de bicicleta, no Rio, à matança no presídio de Pedrinhas, a barbárie
avança onde falta o Estado
Execuções em praça pública,
linchamentos e punições decididas por grupos à revelia da lei são práticas
incompatíveis com a civilização. Ao longo da última semana, a população do
Estado do Rio, bombardeada pela propaganda oficial que alardeia vitórias sobre
a criminalidade, foi confrontada com situações em que a barbárie se fez
presente igualmente numa área nobre da capital e na desfavorecida Baixada
Fluminense.
No bairro do Flamengo, a poucos
metros da residência oficial do comandante da Polícia Militar do Estado,
autointitulados “justiceiros” castigaram e expuseram como troféu um jovem de 15
anos, deixado atado pelo pescoço a um poste, com uma tranca de bicicleta. Cinco
dias depois, vieram à tona imagens da execução a sangue frio de um jovem
acusado de praticar assaltos em Belford Roxo.
Os dois episódios têm o impacto
de um pouso forçado no Brasil real, onde grupos que fazem injustiça com as
próprias mãos e cadáveres desconhecidos do sistema judiciário não são situações
atípicas.
Justiçados e justiceiros não
estão, definitivamente, extintos no Brasil. Ambos inaceitáveis, os casos da
última semana chocam por razões bastante distintas. No encontro de um jovem
atado pelo pescoço a um poste, o espanto está no local onde ocorreu o crime, a
fatia mais policiada, iluminada e bem cuidada da capital.
A morte do jovem na Baixada, sentenciado à
morte por pistoleiros, ocorrida em 23 de janeiro, tinha tudo para entrar para a
lista de crimes de autoria desconhecida, arquivados com as pilhas de inquéritos
inconclusos da Polícia Civil.
Um detalhe, no entanto, fez do
caso uma exceção: um celular captou 18 segundos de um vídeo revelado pelo
jornal Extra, transformando o que seria um “acerto de contas de bandidos” em um
foco de indignação nacional.
João Marcello Erthal – VEJA
Segunda-feira, 10 de fevereiro,
2014.
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