Levantamento inédito da ONG
Transparência Brasil aponta que 44% dos deputados e 64% dos senadores são
familiares de outros políticos
Quase metade dos parlamentares
têm parentes na política: 44% dos deputados e 64% dos senadores. É o que mostra
mapeamento inédito das ligações familiares de congressistas eleitos em 2006 e
2010, por estado, partido, idade e gênero, feito pela ONG Transparência Brasil.
A Região Nordeste tem a maior
proporção de congressistas com parentes políticos: 60% dos deputados e 70% dos
senadores. É o caso dos presidentes das duas casas, o deputado Henrique Eduardo
Alves (PMDB-RN) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). O pai de Renan foi
prefeito e vereador de Murici (AL). Seu irmão Olavo é deputado estadual, seu
irmão Renildo é prefeito de Olinda (PE), seu irmão Remi é prefeito de Murici
(AL) e o filho, Renan Calheiros Filho, é deputado federal pelo PMDB. Alves é
filho do ex-governador do Rio Grande do Norte Aluizio Alves, sobrinho do
ex-prefeito de Natal Agnelo Alves e do senador Garibaldi Alves, primo do
ministro da Previdência (e senador licenciado) Garibaldi Alves Filho e do atual
prefeito de Natal (RN), Carlos Eduardo Alves.
Mulheres – O levantamento da
Transparência Brasil encontrou mais laços familiares entre parlamentares
mulheres: 58% das deputadas e 91% das senadoras. Muitas delas são ou foram
casadas com políticos – ou as duas coisas, no caso de Lauriete (PSC-ES), mulher
do senador Magno Malta e ex do ex-deputado Reginaldo Almeida. Estão neste
grupo, entre outras: as deputadas Marinha Raupp (PMDB-RO), mulher do senador
Valdir Raupp; Elcione Barbalho (PMDB-PA), ex-mulher do senador Jader Barbalho;
e a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), mulher do ex-deputado e atual ministro
das Comunicações, Paulo Bernardo.
Partidos – Na Câmara, DEM e PMDB
têm as bancadas com a maior proporção de políticos com familiares na política,
67% e 64%, respectivamente, incluindo: o líder do DEM, Mendonça Filho (PE),
filho, irmão, cunhado e primo de políticos; e Nilda Gondim (PMDB-PB), que é
filha do ex-governador da Paraíba Pedro Gondim, foi casada com o ex-deputado
Vital do Rêgo e é mãe do senador Vita do Rêgo Filho e do ex-prefeito de Campina
Grande Veneziano Vital do Rêgo.
No Senado, as taxas mais altas
são do PP (100%), PSDB (82%) e PMDB (78%). Todos os cinco senadores pepistas
têm laços familiares com políticos, entre eles Francisco Dornelles (PP-RJ),
primo de Getúlio Vargas, sobrinho de Tancredo Neves e também primo do senador e
presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG), por sua vez é neto de Tancredo e filho do
ex-deputado Aécio Cunha.
O PMDB do Senado abriga
representantes de alguns dos mais poderosos clãs regionais, entre eles o
ex-presidente José Sarney (AP), pai do deputado Sarney Filho (PV-MA) e da
governadora do Maranhão, Roseana Sarney; Lobão Filho (MA), filho do ministro
Edison Lobão e da deputada Nice Lobão; além de Renan (AL) e Barbalho (PA),
entre outros.
Clãs – Obviamente, não há nada de
errado em seguir a carreira de um parente. Mas a disputa eleitoral não pode se
resumir ao "pedigree" dos candidatos. O levantamento da Transparência
Brasil chama atenção para o fato de que a maioria dos novos rostos do Congresso
são, na verdade, membros mais jovens de velhos clãs políticos. Dos 228
deputados com parentes na política, 53% são "herdeiros". Entre os
menores de 40 anos, 64% integram clãs. Entre os menores de 30 anos, a proporção
chega a 78%. E isso que o levantamento só considera parentes eleitos e
suplentes que efetivamente tenham assumido a cadeira, deixando de fora da conta
secretários e candidatos derrotados nas urnas.
O peso de um sobrenome fica
evidente no batismo político: vários herdeiros adotam a marca do parente
famoso, em vez de seu próprio nome civil. Zeca Dirceu (PT-PR), filho do
ex-ministro preso José Dirceu, chama-se José Carlos Becker de Oliveira e Silva;
Irajá Abreu (DEM-TO), filho da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), é Irajá
Silvestre Filho; Marcelo Matos (PDT-RJ), irmão de Sandro Matos, prefeito de São
João do Meriti, foi registrado como Marcelo Viviani Gonçalves; e André Moura
(PSC-CE), filho dos ex-deputados Reinaldo e Lila Moura, chama-se André Luis
Dantas Ferreira.
Sobrevivência – Um Congresso em
que o poder passa de uma geração a outra da mesma família pode acabar moldando
uma base parlamentar avessa a mudanças, alerta Natália Paiva, coordenadora de
projetos da Transparência Brasil. Isso na hipótese mais benevolente. Mais
grave, a parentada pode servir como último recurso de políticos desgastados ou
mesmo impedidos de disputar eleições.
Em 2010, temendo encrencar-se com
a Lei da Ficha Limpa, Joaquim Roriz desistiu da candidatura ao governo do
Distrito Federal em favor da mulher, Weslian, cujo despreparo entraria para o
anedotário da política brasileira. No
fim, por decisão do Supremo Tribunal Federal, a lei não valeu para a corrida
eleitoral de 2010.
As eleições de 2014, portanto,
serão as primeiras de âmbito estadual e federal na vigência da lei. E vários
caciques já preparam a entrada em cena de seus herdeiros de ficha limpa. Entre
os novatos que podem disputar seu primeiro mandato este ano estão Natanzinho,
filho do deputado cassado e preso em 2013 Natan Donadon (ex-PMDB-RO), e
Expedito Neto, filho do ex-senador pelo PSDB Expedito Júnior (GO), cassado em
2009.
Transparência Brasil.
Quarta-feira, 04 de junho, 2014.
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