José Dirceu recebeu visita de
deputados no presídio da Papuda. Em cela especial, petista tem direito a
micro-ondas, TV e chuveiro quente
Nesta terça-feira, uma comissão
de deputados federais de diferentes partidos fez uma visita ao mais influente
detento da Penitenciária da Papuda, no Distrito Federal, o ex-ministro José
Dirceu. O objetivo do grupo, formado majoritariamente por aliados do petista,
era tentar atestar que o petista não detém regalias na cadeia e pressionar a
Justiça a liberá-lo para trabalhar fora da Papuda durante o dia. Mas não foi o
que ocorreu. Ao chegar ao presídio, os parlamentares encontraram o detento
95.413 em uma cela privilegiada, eufórico diante de uma televisão de plasma que
exibia a vitória do Real Madrid sobre o Bayern de Munique pela Liga dos
Campeões da Europa.
“Estou assistindo ao Real dar uma
surra no Bayern”, disse o mensaleiro, sorridente, ao receber a comitiva em sua
cela – o time espanhol goleou o rival alemão por 4 a 0.
Segundo relato do deputado
Arnaldo Jordy (PPS-PA), a cela do petista é a maior do complexo, equipada com
micro-ondas, chuveiro quente, televisão e uma cama diferente das demais. Dirceu
foi colocado em um espaço de 23 m² no Centro de Internamento e Reeducação
(CIR), cujas celas têm padrão de 15 m² e reúnem até quatro detentos. O local
servia de cantina, mas passou por uma reforma para receber o ex-ministro.
“A cela do Dirceu é completamente
diferente das outras que a gente viu, não há dúvidas. Vimos pessoas com
deficiência física que deveriam ficar separadas porque os presos pegam parte da
cadeira de rodas para fazer armas. Mas elas seguem misturadas, dormem em
colchões piores e tomam banho em chuveiro frio”, afirmou a deputada Mara
Gabrilli (PSDB-SP), que é cadeirante.
Os deputados de oposição
reclamaram que o coordenador-geral da Sesipe (Subsecretaria do Sistema
Penitenciário), João Feitosa, impôs uma série de restrições durante a visita:
"Ele queria nos mostrar a cantina, as melhores celas e que seguíssemos o
roteiro definido por ele. Disse ainda que não poderíamos ir a outros setores
por falta de acessibilidade para a deputada Mara", disse Jordy. Após a
insistência, foram liberados três dos cinco parlamentares para visitar outras
alas da penitenciária – inclusive a própria Mara Gabrilli, que negou ter
enfrentado dificuldades durante o trajeto.
Além de Jordy e Mara Gabrilli,
integraram a comitiva os deputados Nilmário Miranda (PT-MG), Luiza Erundina
(PSB-SP) e Jean Wyllys (PSOL-RJ).
Podólogo – No mês passado, VEJA
revelou uma série de mordomias de Dirceu na Papuda. O petista passa a maior
parte do dia no interior de uma biblioteca onde poucos detentos têm autorização
para entrar. Lá, ele gasta o tempo em animadas conversas, especialmente com
seus companheiros do mensalão, e lê em ritmo frenético para transformar os
livros em redações, o que lhe pode garantir dias a menos na cadeia. O
ex-ministro só interrompe as sessões de leitura para receber visitas – incluindo
um podólogo –, muitas delas fora do horário regulamentar e sem registro oficial
algum, e para fazer suas refeições, especialmente preparadas para ele e os
comparsas.
Comandada pelo PT, a Comissão de
Direitos Humanos da Câmara aprovou a diligência até a Papuda com o objetivo de
negar a existência de benefícios aos condenados no julgamento do mensalão e,
dessa forma, evitar sanções aos mensaleiros. Além de pressionar pela liberação
do trabalho externo para Dirceu, petistas temem que seus companheiros sejam transferidos
para uma penitenciária com regime mais duro.
Dirceu está sendo investigado
pela Justiça por ter usado um celular dentro da cadeia do secretário da
Indústria, Comércio e Mineração do governo da Bahia, James Correia, no dia 6 de
janeiro. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa,
cobrou investigações sobre essa e outras regalias de Dirceu e aguarda um
parecer para decidir sobre a autorização para ele trabalhar em um escritório de
advocacia.
Marcela Mattos - VEJA
Terça-feira, 29 de abril, 2014.
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