A atuação do presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ), como principal fiador das propostas do governo tem
preocupado líderes de partidos da base aliada. Ao assumir a dianteira das
articulações dos projetos de interesse do Palácio do Planalto, Maia tem sido
visto na Casa como verdadeiro “líder do governo”, posto que oficialmente é
ocupado por André Moura (PSC-SE).
Parlamentares dizem acreditar que a
“rusga” entre Maia e Moura pode, no futuro, atrapalhar a aprovação de propostas
importantes para o governo.
O estremecimento entre os dois começou
com a disputa pela liderança do governo na Casa, logo que o presidente Michel
Temer assumiu interinamente a Presidência da República, em maio. Apadrinhado
pelo deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Moura levou a melhor porque
tinha também o apoio do Centrão – maior grupo da base aliada, formado por 13
partidos, e liderado por PP, PSD, PTB e PR. Na sequência, Cunha renunciou à
presidência da Câmara e Maia foi eleito para um mandato-tampão.
Na ocasião, o deputado do DEM teve
respaldo da atual oposição (PT, PCdoB e PDT) e do bloco formado por PSDB, DEM,
PSB e PPS para derrotar o líder do PSD na Casa, Rogério Rosso (DF), candidato
apoiado por Moura e pelo Centrão.
Experiência
Nos bastidores, parlamentares dizem que
Moura não tem habilidade para a função e que Maia assumiu automaticamente a
articulação política por ser mais experiente, além de ter mais acesso a Temer e
seus ministros. Logo ao assumir, Maia aproveitou a boa relação com a oposição
para se cacifar com o Planalto. Em projetos como o da renegociação da dívida
dos Estados, atuou informalmente como líder do governo e entrou diretamente na
negociação com aliados e opositores.
Já na PEC do Teto, partiu de Maia a
organização de encontros com deputados e economistas para convencer a base
aliada a votar a favor da matéria. Moura ficou como coadjuvante. A aprovação em
primeiro turno por 367 votos, nesta semana, trouxe uma breve harmonia, mas, no
dia seguinte, a relação ruim ficou novamente exposta após impasse na votação do
projeto de repatriação.
Piora
A relação entre Maia e Moura esteve
estremecida na tramitação do projeto de repatriação, do qual o presidente da
Câmara é fiador. Na semana passada, Maia ficou contrariado com a atuação de
Moura e do secretário da Receita, Jorge Rachid, para desfazer mudanças que ele
havia articulado. “Se essa arrecadação vier abaixo do que está se esperando, o
governo não vai fechar a conta. O grande conflito era ‘foto’ ou ‘filme’. Agora,
o governo quer de novo filme, então não trate a gente como palhaço”, disse Maia
na ocasião.
O presidente da Câmara acusou Moura
por não conseguir votar o projeto na terça-feira, 12. O líder do governo não
ajudou a mobilizar quórum e Maia ficou nas mãos do PT, que se recusou a fazer
acordo para votação simbólica, inviabilizando a aprovação da matéria. Na
avaliação de aliados de Maia, Moura cruzou os braços propositalmente.
Questionado, Moura negou atritos com
Maia e disse que sua relação com o presidente da Câmara é “muito boa”. “Minha
missão é aprovar as matérias do governo. Todas estão sendo aprovadas. Quem deve
estar satisfeito ou não com o meu trabalho é o presidente Michel Temer”,
afirmou. “Não tenho ciúmes.”
Para aliados de Maia, mesmo com a
disputa, não interessa ao presidente da Câmara substituir o líder do governo
agora. Segundo eles, Moura poderia ser trocado por algum parlamentar de maior
“estatura” política e poder de articulação no Centrão, o que fortaleceria o
grupo na eleição à presidência da Casa, em fevereiro de 2017. (AE)
Sexta-feira, 14 de outubro, 2016
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