As
projeções apontam para a elevação do índice do NV (Não Voto — abstenções, votos
nulos e brancos), na eleição de 7 de outubro, a um patamar acima de 40%.
Recorde-se que o 2º turno da eleição para governo de Tocantins, em junho
passado, registrou 51,83% de eleitores votando em branco, anulando ou deixando
de comparecer às urnas.
Trata-se,
como se deduz de pesquisas, da indignação do eleitor em relação às coisas da
política — atores, métodos e processos. O eleitor protesta contra o lamaçal que
envolve a esfera política, que parece indiferente a um clamor social exigindo
mudanças de comportamentos e atitudes. A principal arma que dispõe o eleitor
para mudar a política é o voto. Ora, se o cidadão se recusa a usar esse direito
está, de certa forma, contribuindo para a manutenção do status quo, perpetuando
mazelas que infestam o cotidiano da vida política.
Estamos,
portanto, diante de um dilema: caso o NV assuma proporções grandiosas no pleito
deste ano, a hipótese de mudança na fisionomia política cai por terra,
arrastada por ondas da mesmice, onde se enxergam as abomináveis práticas do
fisiologismo (“é dando que se recebe”), o coronelismo (os currais eleitorais, a
política de cabresto), o nepotismo (as engordas grupais), a estadania (o
incremento da dependência social do Estado), o neossindicalismo peleguista
(teias sindicais agarradas às mamas do Estado), a miríade de partidos e seus
escopos pasteurizados etc.
Adeus ao compadrio
político
A
renovação política, bandeira erguida pela sociedade organizada, corre o risco
de fracassar, caso o eleitorado se distancie do processo eleitoral ou, mesmo
comparecendo às urnas, anule o sufrágio ou vote em branco. É oportuno lembrar
que o eleitor é peça fundamental no jogo de xadrez da política. Se não tentar
dar um xeque no protagonista que busca se eleger, este acabará sendo empurrado
para o altar da representação política por exércitos treinados nas trincheiras
dos velhos costumes. Assim, a renovação nas molduras governativa e parlamentar
não ocorrerá.
Aliás,
calcula-se que a renovação da representação no Parlamento seja de apenas 40%
este ano, menor do que em pleitos do passado. A campanha mais curta – de 45
dias nas ruas e de 35 dias na mídia eleitoral — beneficiará os mais conhecidos
e aqueles de maiores recursos financeiros. (No pleito anterior, a campanha
tinha 90 dias de rua e 45 dias de programa eleitoral no rádio e TV).
O
fato é que não se pode contar com mudança política por unilateral vontade do
corpo parlamentar. Deputado ou senador, se não recebem pressão da base
eleitoral, resistem a qualquer ideia de avançar, alterar, mudar regras que,
hoje, os beneficiam. Ou, para usar a expressão mais popular, não darão um tiro
no pé. Por conseguinte, a reformulação da política carece de participação ativa
do eleitor, razão pela qual este deve cobrar de seus candidatos compromissos
com avanços com o fito de eliminar os cancros que corroem o corpo político.
Em
suma, a política não se renova porque não há, por parte dos representantes,
desejo de mudá-la. E não há desejo porque o eleitor ainda não jogou seu
representante no carrossel das transformações. O pleito de outubro deste ano
tende a encerrar a era do grande compadrio na política. O que não quer
necessariamente dizer que isso ocorrerá. Por isso mesmo, urge despertar a consciência
cívica do cidadão. Motivá-lo a colocar sobre os trilhos o trem das mudanças.
Toda a atenção deve se dar à bomba que ameaça explodir a locomotiva: o Não
Voto. Abstenções, votos nulos e brancos, em demasia, são os ingredientes que
podem implodir nosso ainda incipiente sistema democrático.
Gaudêncio
Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de
comunicação Twitter@gaudtorquato.
Terça-feira,
17 de julho, 2018 ás 12:00
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