Dois estudos
recentes comprovam que já se tornou crônica a escassez de mão de obra
qualificada no Brasil, o que pode comprometer ainda mais a capacidade produtiva
nos próximos anos. Se nada for feito urgentemente para começar a reverter esse
quadro, o País estará condenado a ter por muito tempo ainda o crescimento
econômico pífio que apresenta hoje - com efeitos negativos na distribuição de
riqueza.
Um dos estudos,
elaborado pelo IBGE, indica que as pessoas de 14 anos ou mais que não tinham
terminado o ensino fundamental representam 26,9% dos 90,6 milhões de
trabalhadores ocupados, segundo dados do segundo trimestre de 2013. Os ocupados
com nível superior são apenas 14,9% do total, e os que não dispunham de nenhuma
instrução chegam a 5,4%.
Tais números são
próximos daqueles que compõem o perfil educacional do País. Dos brasileiros
acima dos 14 anos, isto é, em idade de trabalhar, 31,6% não têm o fundamental
completo, 10,7% têm o superior completo e 9,4% não têm nenhuma formação.
As informações
constam da nova Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua,
que mostra dados trimestrais sobre emprego. Desde 2012, conforme o
levantamento, o número de trabalhadores menos escolarizados diminuiu, mas os
indicadores apontam que a escolarização ainda segue sendo muito precária,
insuficiente para atender à demanda cada vez maior por parte das indústrias e
mesmo dos setores de serviços e da construção civil, que tradicionalmente
exigem menos especialistas na hora de contratar.
Outra pesquisa,
esta da Fundação Dom Cabral, mostra que 91% das 167 empresas consultadas
manifestaram dificuldades para contratar em 2013. Trata-se de uma situação
estável em relação aos 92% verificados na primeira pesquisa, em 2010. No
entanto, a fundação alerta que cresceu o número de empresas que mencionaram um
conjunto maior de profissões com falta de mão de obra. Isso significa que,
antes, a escassez de trabalhadores era mais acentuada em apenas alguns setores;
hoje, no entanto, a gama de atividades que enfrentam dificuldade para
contratação ampliou-se, com a escassez praticamente generalizada.
A pesquisa
mostra que a grande maioria das empresas (83,23%) cita a falta de trabalhadores
capacitados como a principal dificuldade na hora de contratar, seguida de
deficiência na formação básica dos candidatos, com 58,08% das menções. O
responsável pelo estudo, Paulo Resende, diz que "os profissionais chegam
ao mercado com dificuldades básicas, como fazer contas ou interpretar textos",
uma situação que obriga as empresas a "investir cada vez mais em
treinamento e capacitação dos seus funcionários, elevando seus custos e,
consequentemente, reduzindo a sua competitividade".
O remédio, para
as empresas, é reduzir as exigências. A pesquisa indica que 51% das companhias
deixam de requerer experiência dos candidatos, enquanto chega a 13% o
porcentual de empresas que aceitam empregados até mesmo sem nenhuma habilidade.
Mesmo assim, nem todos os cargos são preenchidos, e então é necessário buscar
funcionários no exterior. Segundo Resende, o tempo que as empresas levam para
contratar e treinar um profissional de nível técnico e superior pode levar até
oito meses, algo que também afeta diretamente a produtividade.
A fartura de
trabalhadores foi determinante para que, na década passada, o Produto Interno
Bruto (PIB) per capita se expandisse 20%, enquanto a produtividade cresceu
apenas 10%. Agora, no entanto, a disponibilidade de mão de obra estreitou-se, e
a maior parte dela é despreparada para o necessário salto da capacidade
produtiva.
A solução do
problema não passa apenas pelo estímulo aos cursos de capacitação técnica -
necessários, porém insuficientes, pois seus resultados, em boa parte dos casos,
são apenas paliativos. O importante, reitere-se, seria ter investimentos
massivos e duradouros em educação básica, cuja precariedade condena o setor
produtivo brasileiro à mediocridade.
O Estado de S.Paulo
Domingo, 26 de
janeiro, 2014.
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