Dos 2.843 médicos recém-formados
que se submeteram ao exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São
Paulo (Cremesp) para obter registro profissional, em novembro do ano passado,
1.684 - o equivalente a 59% do total - acertaram menos de 72 das 120 questões
de múltipla escolha.
O resultado seria preocupante
caso os médicos reprovados ficassem proibidos de praticar a medicina, a exemplo
do que ocorre com os candidatos reprovados nos exames da Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB). No entanto, como todos os participantes da prova de habilitação
do Cremesp obtêm o registro profissional independentemente de seu desempenho,
muitos não se preocupam em responder corretamente as questões da prova, que é
obrigatória. Alguns chegam até a sabotá-la, dando respostas erradas a perguntas
elementares e corriqueiras.
Por isso, os resultados do exame
do Cremesp estão longe de refletir a realidade do ensino médico no Estado de
São Paulo. Em outras palavras, o Cremesp defende que os formandos reprovados
retornem às faculdades de medicina, mas é o exame de habilitação profissional
aplicado pela entidade que sofre de problemas estruturais.
Originariamente, a prova foi
concebida para avaliar se os recém-formados que pretendem trabalhar no Estado
de São Paulo sabem o mínimo necessário para exercer a profissão. "A meta é
proteger a sociedade", afirma Reinaldo Ayer, membro do Cremesp e um dos
coordenadores do exame. Segundo a entidade, o exame é de nível médio,
abrangendo as principais áreas da medicina, e as perguntas, além de terem
amparo na literatura científica, são extraídas de provas equivalentes
realizadas por entidades médicas de outros países.
Aplicados entre 2005 e 2011, os
sete primeiros exames de habilitação do Cremesp foram facultativos - ou seja,
os candidatos se submeteram a eles de forma voluntária. A partir de 2012,
contudo, as provas passaram a ser obrigatórias, sem que os eventuais resultados
negativos inviabilizassem o exercício da medicina. Desde então, a prova - que
não tem o endosso do Conselho Federal de Medicina - padece de credibilidade e
tem sido criticada por vários Conselhos Regionais de Medicina.
"O exame deixa muito a
desejar. Ele não diz absolutamente nada. Se for aprovado ou reprovado, o
profissional recebe a carteira profissional. O exame não implica qualquer
bloqueio", afirma Antonio Carlos Lopes, diretor da Escola de Medicina da
Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), uma das mais
conceituadas do País. "A prova não avalia o recém-formado em sua
totalidade. Sabemos das limitações de testes de múltipla escolha", observa
o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, superintendente do Hospital
Sírio-Libanês e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.
O Estado de S.Paulo
Sábado, 25 de janeiro, 2014.
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