A
força-tarefa da Operação Sépsis, que investiga os esquemas no FI-FGTS e na
Caixa, identificou duas falhas básicas na estrutura do fundo que abriram espaço
para a corrupção: o tamanho do retorno esperado do FI-FGTS, muito mais baixo do
que o exigido pelo mercado; e o alto nível de intervenção política na estrutura
da Caixa.
O
FGTS entrega para o trabalhador 3% mais a Taxa Referencial (TR). Os
investimentos feito com o FI devem render, no mínimo, o dobro - 6% mais TR. A
Caixa anunciou que o resultado em 2016 foi recorde: 8%. Agora, que a inflação
está em 3,5% ao ano, os retornos associados ao FI-FGTS até são razoáveis. Mas
lá atrás, quando a inflação encostou em 10% e a taxa básica de juros foi a 14%,
os retornos exigidos dos projetos eram baixíssimos. Tão barato, dizem os
especialistas, que os aportes com o dinheiro do fundo podiam ser comparados a
um financiamento subsidiado - se não pelo Estado, pelo trabalhador.
Segundo
profissionais de fundos e bancos de investimento não é segredo para ninguém que
os retornos oferecidos pelo FGTS e pelo FI-FGTS estão quilômetros de distância
do mínimo razoável no mercado.
"Se
fosse comparado a um financiamento do mercado, em dívida ou equity
(investimento por meio de compra de participação da empresa), o retorno exigido
por uma instituição privada seria bem maior - duas a três vezes maior",
diz Evandro Buccini, economista da gestora Rio Bravo Investimento. Nessa
perspectiva, defendem os investigadores, pagar propina para ter o recurso seria
mais lucrativo do que buscar outras fontes de financiamento.
Sem autonomia
O
outro fator que teria aberto espaço para negociatas é a baixa autonomia dos
técnicos da Caixa na seleção dos projetos. Segundo os primeiros levantamentos
da Operação Sépsis, o corpo técnico usaria laudos das próprias empresas ou de
consultorias contratadas por elas. Também seguiriam ordens dos chefes para
priorizar ou protelar o encaminhamento dos projetos.
Na
avaliação do consultor do Orçamento da Câmara dos Deputados Leonardo Rolim,
está claro que o modelo do fundo falhou. Rolim fez parte do grupo que avaliou a
criação do FI-FGTS. Conta que apoiou o lançamento porque se previu que o fundo
teria "filtros" para evitar direcionamentos e favorecimentos. As
propostas das empresas passariam pelo crivo de técnicos da Caixa e a
importância estratégica do investimento seria avaliada pelos integrantes do
comitê de investimento.
"Precisamos
dar mais transparência ao processo; uma alternativa seria deixar público todo o
trâmite do projeto, suas taxas, garantias, prazos, retornos esperados. Não se
pode ter nenhum sigilo quando se lida com dinheiro público, ainda mais quando é
dinheiro do trabalhador", diz Roli.
Em
nota ao jornal O Estado de S. Paulo, a Caixa reforçou que seus instrumentos de
controle são efetivos e que todos os investimentos feitos pelo FI-FGTS seguiram
um rigoroso processo de estruturação e aprovação. "Observou rigorosamente
todos os preceitos normativos e de conformidade do banco e do fundo, bem como
sua governança corporativa, que é composta por cinco diferentes comitês e
contando ao todo com mais de 20 membros distintos", diz a nota. (AE)
Domingo,
6 de agosto, 2017 ás 17hs00
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