O
empresário Fred Queiroz, preso na Operação Manus, afirmou em delação premiada
que o ex-ministro dos governos Dilma Rousseff e Michel Temer Henrique Eduardo
Alves (PMDB-RN) comprou apoio de lideranças políticas nas eleições de 2014 com
R$ 7 milhões, em espécie, apenas no primeiro turno, ao governo estadual do Rio
Grande do Norte. No segundo turno, de acordo com a delação, outros R$ 4 milhões
foram destinados à compra de apoio político.
O
delator entregou à Procuradoria uma planilha com o detalhamento da aquisição,
recebimento e distribuição dos recursos aos vereadores, prefeitos e deputados
estaduais que apoiaram o ex-parlamentar na candidatura ao governo do Rio Grande
do Norte em 2014. A Manus, deflagrada no Estado nordestino para apurar fraudes
de R$ 77 milhões na construção da Arena das Dunas, prendeu o ex-ministro em 6
de junho.
A
reportagem teve acesso ao termo homologado na última quinta (24) entre o
empresário, o Ministério Público Estadual e a Procuradoria da República do Rio
Grande do Norte. Fred Queiroz relatou que articuladores da campanha de Alves ao
governo potiguar "precisavam de R$ 10 a R$ 12 milhões para a campanha e
que os valores seriam destinados à compra de apoio político". De acordo
com o delator, o ex-ministro, na ocasião, respondeu que não dispunha dos
recursos, mas que "tentou viabilizar" com a Odebrecht e a JBS o
montante de R$ 7 milhões. Segundo o documento, em setembro daquele ano,
"chegaram de R$ 5 a R$ 7 milhões de reais provenientes da pessoa de
'Joesley' e esses valores "não foram declarados em prestação de contas
eleitorais".
Os
R$ 7 milhões, conforme detalhado na delação, foram entregues em uma mala a um
assessor particular do ex-presidente da Câmara Federal em um hotel da Via
Costeira, na praia de Ponta Negra, zona Sul de Natal. Ainda de acordo com a
delação, José Geraldo, assessor particular de Alves, foi a um hotel encontrar
um casal que veio de Mato Grosso em um avião particular. O assessor levou o
dinheiro em uma mala para casa da sogra, diz o depoimento de Fred Queiroz aos
procuradores da República, Rodrigo Telles de Souza e Fernando Rocha de Andrade.
Segundo
o delator, o coordenador-geral da campanha de Henrique Alves no interior do Rio
Grande do Norte, Benes Leocádio (atual presidente da Federação dos Municípios -
Femurn), foi ao encontro do assessor de Alves com uma listagem dos
beneficiados.
Despesas
Já
no anexo referente ao segundo turno daquela mesma eleição, Queiroz admitiu que
usou sua empresa para receber R$ 9 milhões, dos quais apenas R$ 5 milhões de
reais foram destinados a despesas do contrato, entre elas aquisição de
gasolina, pagamento de pessoal, aluguel de equipamentos, carro de som,
alimentação e estrutura de palco. Dos R$ 9 milhões, R$ 4 milhões teriam sido
destinados à compra de apoio político somente no segundo turno.
Defesa
O
advogado Marcelo Leal, que defende Alves, afirmou que "parte do dinheiro
sacado pela empresa de Queiroz teve por destinação lideranças políticas do
Estado. No entanto, os valores não seriam para compra de apoio, mas sim para que
os políticos utilizassem o recurso na prestação de serviços com atividade de
militância e mobilização de rua.
A
Odebrecht já admitiu, em delações, pagamento de caixa 2 em campanhas políticas
do ex-ministro. A JBS não comentou a delação de Queiroz até a conclusão desta
edição. A reportagem não conseguiu localizar as defesas de José Geraldo,
assessor de Alves, e Benes Leocádio, o coordenador da campanha. (AE)
Terça-feira
29 de agosto, 2017 ás 11hs00
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