Os
partidos políticos arrecadaram, no ano passado, R$ 702 milhões com o Fundo
Partidário e, desse total, cerca de R$ 122,3 milhões custearam rubricas
genéricas, como serviços técnico-profissionais, transferências com fins
eleitorais, aluguel de veículos, outras despesas eleitorais e alistamento. Pelo
menos 88,4% da receita das legendas vêm do fundo partidário, constituído por
recursos públicos previstos no Orçamento Geral da União.
O
levantamento foi feito pela organização não-governamental Transparência Partidária
no Sistema de Prestação de Contas Anual (SPCA) do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE). Pela legislação, os 35 partidos políticos tinham até maio para prestar
contas de 2017. Além do fundo partidário, as receitas das siglas no ano passado
se constituíram de sobras financeiras das fundações, juros e redimentos de
aplicações financeiras, contribuições de parlamentares e contribuições de
filiados.
“O
sistema de prestação de contas dos partidos melhorou significativamente, mas
ainda há despesas obscuras, pouco transparentes”, disse o coordenador da
Transparência Partidária, Marcelo Issa.
Segundo
o TSE, o sistema de prestação de contas atende às exigências de transparência
do financiamento dos partidos, mas dados genéricos que dificultem a
fiscalização podem ser submetidos a diligências para comprovação do gasto.
“Eventual utilização, pelos partidos, de contas de despesa de caráter genérico
pode dificultar a fiscalização sobre a regularidade dos gastos realizados com o
Fundo Partidário. Nessa hipótese, o TSE pode abrir diligência para que os
gastos genéricos sejam comprovados com documentação hábil e prova material da
sua realização, sob pena de esses valores serem considerados irregulares e
sujeitos à devolução ao erário”, respondeu o TSE à reportagem.
A
Transparência Brasil identificou 15 tipos de rubricas genéricas nas prestações
de contas: serviços técnico-profissionais, outras despesas, locação de bens
móveis, transferências com fins eleitorais, outras despesas com propaganda,
outras obrigações, materiais para comercialização, outras despesas eleitorais,
adiantamentos a fornecedores, outras despesas com viagens, instalação de
comitês, outros materiais de consumo, outras máquinas e equipamentos, outros
adiantamentos diversos e alistamento.
Despesas
Segundo
o balanço da Transparência Partidária, os gastos com pessoal lideraram as
despesas declaradas pelos partidos, totalizando mais de R$ 137,9 milhões. Em
segundo lugar vieram as despesas com as fundações partidárias de ensino e
formação. De acordo com a legislação atual, os partidos devem destinar pelo
menos 20% da receita para as fundações. No ano passado, foram R$ 126,2 milhões
para as fundações partidárias.
O
movimento identificou 50 diferentes tipos de despesas nas prestações de contas
dos partidos. Os gastos com propaganda, rádio e televisão, equipamentos e
produção audiovisual chegaram a R$ 77,9 milhões. Com serviços de advogados
foram de R$ 38,3 milhões. Os partidos gastaram R$ 27,8 milhões com aluguel de
imóveis e R$ 26,9 milhões com o pagamento de dívidas de campanha.
“Esses
novos dados só são conhecidos porque nos unimos, pressionamos e conseguimos
junto ao TSE a abertura das contas dos partidos”, disse Issa. A ferramenta de
prestação de conta dos partidos é semelhante à utilizada pelos brasileiros na
declaração de ajuste anual do Imposto de Renda.
Filiação
Estudo
da Transparência Partidária mostra que as siglas têm potencial para garantir
seu sustento, independentemente dos recursos públicos – a contribuição dos
filiados. Segundo registro do TSE, em junho deste ano, 16.799.238 de eleitores
eram filiados a partidos políticos, o que representa 11,4% do total de
brasileiros aptos a votar (147,3 milhões). Na eleição de 2014, eram 15.328.977
de filiados.
As
sete maiores siglas políticas – MDB, PT, PSDB, PP, PDT, PTB e DEM -, todas com
mais de 1 milhão de filiados, reúnem 62,5% do total de eleitores com filiação
partidária. Os dados disponíveis no portal do TSE mostram que destes somente o
PT perdeu filiados entre 2014 e 2018: 258. Das 35 siglas com registro no
Tribunal, o Solidariedade (SD) foi o partido que mais cresceu, passando de
24.858 filiados em junho de 2014 para 212.478 em junho de 2018.
Para
Issa, apesar da crise de representatividade evidenciada com as manifestações de
2013, o total de filiados vem crescendo, o que mostra um interesse da população
pela política. “Não falta interesse das pessoas pela política, mas partidos
mais oxigenados, mais transparentes e mais abertos à sociedade. O que vemos
hoje são partidos drenando os recursos e cargos para os que rezam pela cartilha
dos dirigentes”, afirmou.
Segundo
o estudo da Transparência Partidária, os partidos poderiam arrecadar anualmente
entre R$ 6 bilhões e R$ 250 milhões. No primeiro caso, se 100% dos filiados
contribuíssem mensalmente com R$ 30 e, no segundo, se 25% dos filiados pagassem
R$ 5 ao mês. Em um cenário intermediário, os partidos poderiam arrecadar R$ 1,5
bilhão, se a metade dos filiados pagassem R$ 15 ao mês. “São valores
consideráveis”, afirmou Issa. (ABr)
Sexta-feira,
3 de agosto, 2018 ás 11:00
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