No
primeiro domingo do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), foram aplicadas as
provas de linguagem, ciências humanas e redação. Alguns temas abordados foram a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, racismo, ditadura militar e
violência contra a mulher.
Logo
na sexta questão, a prova citou a diretora-geral da Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, Audrey Azoulay, em uma fala
sobre a existência da discriminação e do ódio na sociedade. “A Declaração
Universal dos Direitos Humanos está completando 70 anos em tempos de desafios
crescentes, quando o ódio, a discriminação e a violência permanecem vivos”.
Racismo
O
exame também incluiu o trecho de uma matéria de jornal que cita a “intolerância
do internauta” brasileiro, traduzida em mensagens de racismo, posicionamento
político e homofobia. O racismo também foi abordado em um poema que aborda o
discurso racista internalizado na sociedade. O racismo apareceu ainda na prova
de ciências humanas, através da ativista Rosa Parks.
Rosa
Parks foi uma costureira negra norte-americana que entrou para a história da
luta pela igualdade de direitos civis ao recusar-se a ceder seu lugar no ônibus
a uma pessoa branca. Parks foi presa por um dia, mas seu gesto deu início a um
boicote ao transporte público local e culminou, meses depois, com o fim da lei
que determinava a separação de negros em assentos separados dos brancos nos
Estados Unidos. O episódio envolvendo Rosa Parks foi incluído na prova.
Violência contra a mulher
A
violência contra a mulher foi outro tema levantado nas provas de hoje. Na prova
de linguagens, códigos e suas tecnologias, uma campanha publicitária contra o
assédio a mulheres em trens de Porto Alegre foi tema de uma questão.
Uma
peça publicitária da década de 1940 foi tema de outra questão na prova de
ciências humanas e suas tecnologias. A peça reforça os estereótipos de mulher
submissa e a prova questionou o estudante sobre essas distorções da visão,
predominante à época, que se tinha da mulher.
Ditadura militar
A
ditadura militar foi tema na prova de ciências humanas. O exame reproduziu a
carta do cartunista Henfil ao presidente Ernesto Geisel escrita em 1979. Na
carta, Henfil declara a devolução do seu passaporte, uma vez que os passaportes
de outras oito pessoas, dentre elas Leonel Brizola e Miguel Arraes, tinham sido
negados.
“Considerando
que, desde que nasci, me identifico plenamente com a pele, a cor dos cabelos, a
cultura, o sorriso, as aspirações, a história e o sangue destes oito senhores.
[…] venho por meio desta devolver o passaporte que, negado a eles, me foi
concedido pelos órgãos competentes do seu governo”, diz um trecho da carta
reproduzida no exame.
Redação
Hoje,
os estudantes fizeram provas de linguagem, ciências humanas e redação. O tema
da redação foi “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados
na internet”. O exame segue no dia 11 de novembro, quando os estudantes farão
provas de ciências da natureza e matemática.
Prova mais conteudista
Para
o professor de redação, sócio e vice-presidente de educação do curso online
Descomplica, Rafael Cunha, o Enem manteve o padrão das provas dos últimos anos.
“Muita leitura, uma variedade bastante grande de textos, desde técnicos,
passando por literários, gráficos, ilustrações, fotografias e obras de arte”.
Segundo
Cunha, a prova foi essencialmente de leitura e interpretação. “Foi uma prova de
diversos textos ligados a questões sociais bastante relevantes como imagem da
mulher, preconceito em relação à mulher, racismo. Uma prova com preocupação
social bastante forte”.
O
professor de filosofia e sociologia do curso pré-vestibular online ProEnem
Leandro Vieira concorda que o Enem 2018 seguiu tendência de anos anteriores e
estava mais complexa. “A prova estava mais complexa, mais conteudista. Os
participantes precisavam de mais conteúdo e menos intepretação para resolver
questões”, diz e acrescenta: “A prova estava extremamente cansativa, muitos
textos longos. Exigiu do aluno atenção e cuidado, exigiu que se mantivesse
calmo."
De
acordo com o professor, as questões sociais foram mantidas e havia mais
questões de história. Geografia perdeu um pouco o espaço, na avaliação de
Vieira.
A
tendência conteudista, para Vieira, pode excluir estudantes menos preparados.
“Eu acho que o Enem quando iniciou lá atrás tinha a proposta de ser uma prova
mais abrangente, que possibilitava abranger o Brasil em maior escala. Está
perdendo um pouco esse viés. Distanciando alunos que não tem acesso a cursinho
e a educação de maior qualidade”.
A
partir das 20h30, professores irão corrigir, ao vivo, no especial Caiu no Enem,
veiculado na TV Brasil, na web e nas rádios Nacional e MEC. Os candidatos podem
participar do programa pela web, em tempo real, enviando as dúvidas e
comentários para as redes sociais da TV Brasil com a hashtag #CaiuNoEnem.
Segundo domingo de provas
O
segundo domingo de provas será dia 11 de novembro, quando os estudantes farão
provas de ciências da natureza e matemática.
A
estrutura para aplicação do Enem envolve 10.718 locais de aplicação, 155.254
salas e mais de meio milhão de colaboradores. Foram impressas 11,5 milhões de
provas de doze Cadernos de Questões diferentes. Haverá ainda uma videoprova em
Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ao todo, são quase 600 mil pessoas
envolvidas na aplicação do exame.
A
nota do exame poderá ser usada para concorrer a vagas no ensino superior
público pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a bolsas em instituições
privadas, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) e para participar do
Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Gabarito
O
gabarito oficial do Enem 2018 será divulgado pelo Inep até 14 de novembro. Já o
resultado deverá ser divulgado no dia 18 de janeiro de 2019.
Ao
todo, 5.513.726 estudantes estão inscritos para fazer o exame em 1,7 mil
cidades. (ABr)
Segunda-feira,
05 de novembro, 2018 ás 00:05
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