O
primeiro-filho, deputado Eduardo Bolsonaro (PSL/SP), reafirmou, numa explosiva
entrevista do “Estadão”, que a questão da posse de armas é uma espécie da
cláusula pétrea do programa de seu pai, o presidente eleito Jair Bolsonaro.
Como explicar? Parece mais uma obsessão do que programa de governo. Entretanto,
o caso é mais profundo do que parece à primeira vista. Já é o tema de estudos
por um dos intelectuais mais categorizados da centro-direita brasileira. Eis
uma explicação:
O
filósofo gaúcho Dênis Lerrer Rosenfeld localiza o ponto de inflexão da
decadência da centro-esquerda brasileira no desrespeito aos resultados do
plebiscito de 23 de outubro de 2005, em que a população votou maciçamente,
cerca de 63,94%, num sentido, mas os governos manipularam administrativamente e
anularam o veredito popular. Aí começa um desgaste que acabou se manifestando
nas eleições gerais de 2018, diz o professor do Departamento de Filosofia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Só
isto explica porque a rejeição ao Artigo 35 da Constituição converteu-se em
ponto central da campanha eleitoral deste ano, num momento em que o País e a
política de um modo geral atravessam crises sem precedentes, tanto na economia
como em diversos outros segmentos da organização do estado. Em vez de reformas
estruturais e de novas políticas urgentes, mais de falou de armas e munições no
seu conceito de direito individual do cidadão, e não como fator de segurança
pessoal ou pública, outras áreas em que o Brasil vive momentos dramáticos.
Pode
ser que a revogação dos dispositivos de proibição da comercialização de armas e
munições, permitindo a posse (não se porte, enfatizam os defensores do
armamentismo) de determinadas peças, até algum limite de calibre e tamanho que
for determinado pela nova regulamentação, entre logo na pauta da Congresso. É
notável: jamais os mentores do plebiscito, tomados pela ideia de que esses
artefatos seriam varridos pelo senso politicamente correto, alvo de estridente
propaganda e doutrinação condenatória, silenciosamente se impôs em contrário,
para espanto geral. Aí estaria o ovo da serpente que levou a esquerda à derrota
13 anos depois, segundo interpretação do intelectual rio-grandense.
O
Brasil apresenta certas surpresas que intrigam o mundo. Num momento em que a posse
de armas pessoais é geralmente condenada pela mídia internacional, na esteira
do horror dos assassinos aleatórios dos Estados Unidos, o país anda em sentido
contrário. Tal qual os norte-americanos, os brasileiros também preferem manter
seus direitos à posse de armas, embora nem tão poderosas como nos EEUU, onde se
pode ter e portar equipamentos pesados (que desde sempre foram proibidos para
uso privado aqui no Brasil) de uso militar.
Na
América do Norte esse direito deriva de um fato histórico fundador, pois os
colonos das 13 colônias usaram suas armas pessoais para combater o Exército
Inglês, na Guerra da Independência. Como os britânicos representavam um estado
opressor, as armas pessoais converteram-se num direito do cidadão para
defender-se do arbítrio. A diferença é que as garruchas daqueles tempos nem de
longe se assemelhariam aos fuzis AR 15 que os dementes de nossos dias utilizam
para matar estudantes nas escolas. Entretanto, os americanos não aceitam sequer
discutir no parlamento, muito menos mudar essa legislação.
O
Brasil surpreende: também o resultado de outro plebiscito, o do regime de
governo, republicano ou monárquico, realizado em 1993, assombra o mundo.
Segundo aqueles resultados, 15% dos brasileiros votaram pela volta do Império.
Dizem os cientistas políticos, que tamanha força seria o bastante para formar
um partido de grande porte em qualquer outro país. No entanto, assim como
revelou esse posicionamento popular vigoroso, monarquismo brasileiro
desapareceu no dia seguinte. Somente o candidato Jair Bolsonaro chamou um
membro da Família Real para sua campanha, desde então. Ainda não se apurou qual
foi o valor da contribuição do príncipe-deputado Luís Phillipe de Orleães e
Bragança no apoio na sua eleição em 28 de outubro.
Como
diria o capitão-presidente: ombro armas. (DP)
Segunda-feira,
12 de novembro, 2018 ás 18:00
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