Confirmado
para o Ministério da Justiça (que agregará a Segurança Pública e parte do
Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o Coaf) , o juiz federal Sergio
Moro disse que o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro não fará
discriminação de qualquer tipo. Também afirmou que o novo governo será severo
na punição contra os crimes de ódio.
“Eu
jamais iria ingressar em um governo se houvesse uma sombra de suspeitas de que
haveria alguma política nesse sentido”, afirmou o juiz federal durante
entrevista à Rede Globo na noite de ontem (11). “O governo deve ter uma postura
rigorosa contra crimes em geral e também crimes de ódio.”
Moro
disse ainda que jamais ouviu de Bolsonaro qualquer afirmação que denotasse
discriminação. “Eu acompanhei todo o processo eleitoral. Eu nunca vi da parte
do presidente eleito uma proposta de
cunho discriminatório em relação às minorias. Eu não imagino, de qualquer
forma, que essas minorias estejam ameaçadas.”
De
acordo com o juiz federal, não haverá mudanças. “Nada vai mudar. Eu tenho
grandes amigos que são homossexuais, algumas das melhores pessoas que conheço
são homossexuais. Não existe nenhuma perspectiva de que vai mudar.”
Corrupção
Questionado
se defenderia o afastamento de um ministro suspeito de corrupção, Moro afirmou
que “se a denúncia for consistente,
sim”, a pessoa deve ser afastada. Ele lembrou que ouviu de Bolsonaro que não
haveria proteção no seu governo em meio a eventuais suspeitas. “[Ele, o
presidente eleito, disse que] ninguém seria protegido.”
Em
seguida, o juiz federal foi categórico. “Eu não assumiria um papel como
ministro da Justiça com risco de comprometer a minha biografia.”
Isenção
Responsável
pelos processos da Lava Jato na 13ª Vara Criminal de Curitiba, Moro reiterou
que a decisão de ingressar no governo eleito é posterior às medidas anteriores,
tomadas por ele, como o julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
por corrupção e lavagem de dinheiro.
“Existe
essa fantasia de que o ex-presidente Lula, que foi condenado por corrupção e
lavagem de dinheiro, teria sido excluído arbitrariamente das eleições por conta
do processo penal. Mas o fato é que ele foi condenado porque cometeu um crime”,
afirmou o juiz federal, lembrando que proferiu a decisão em 2017.
O
Conselho Nacional de Justiça, na semana passada, pediu explicações a Moro sobre
sua suposta atividade político-partidária enquanto ainda exercia a
magistratura. Ele negou qualquer irregularidade na sua conduta.
Crime Organizado
Moro
disse que sua meta é adotar medidas de combate ao crime organizado, sustentadas
em investigações sólidas, prisão dos líderes, isolamento dos chefes do esquema
e confisco de bens.
“É
assim que se desmantela a organização criminosa”, afirmou o juiz federal. “Não
é uma coisa simples”, acrescentou. “Não se pode construir uma política baseada
em confrontos.”
Questionado
sobre a proposta do governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC),
de colocar snipers (atiradores de elite) para “abater” criminosos armados de
fuzil, sem que haja implicação legal para os policiais, Moro disse que o
assunto tem de ser tratado com “mais cautela” e que pode futuramente “sentar e
conversar com o governador eleito”.
Futuro
O
juiz federal negou que pretenda se lançar à sucessão presidencial, em 2022. Ele
disse que exercerá uma função técnica e não política. “O grande motivador foi a
oportunidade de ir a Brasília e de poder ter uma agenda anticorrupção e
anticrime organizado.”
Moro
disse também que não se vê fazendo política no futuro. “Na minha visão, estou
assumindo um cargo, predominantemente um cargo técnico”, disse. “Estou falando
aqui que não vou ser [candidato à Presidência da República].”
Sobre
eventuais divergências com o presidente eleito, Moro disse que buscaria um
acordo. Se não for possível, Bolsonaro poderia substituí-lo. “Quem foi eleito
foi o senhor presidente”, ressaltou. “Se tudo der errado, eu vou ter de
procurar me reinventar no setor privado de alguma forma.”
Com
a perspectiva de ser nomeado para o Supremo Tribunal Federal (STF) a partir da
abertura das vagas dos ministros Celso de Mello e Marco Aurélio de Mello, em
2020 e 2021, respectivamente, o juiz federal afirmou que é uma “possibilidade
para o futuro”. (ABr)
Segunda-feira,
12 de novembro, 2018 ás 10:00
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