Nos
jogos de baralho, se diz que carta não tem mola, ou seja, não é permitido
voltar atrás após uma jogada. Mas, no jogo político, a presidente Dilma
Rousseff (PT) mostra que as suas cartadas na eleição estavam com cordas que,
agora, são arremessadas na direção contrária às suas promessas de campanha. A
petista inicia seu segundo mandato com ideias novas, diferentes das que
propagou até chegar às urnas.
Dentre
as contradições estão medidas que alteram direitos trabalhistas, a não correção
imediata da tabela do Imposto de Renda, como era esperado, a escolha dos
ministros, que se imaginava com perfil mais técnico, e até a sutil economia
sobre o salário mínimo.
Depois
de dizer que não mexeria em direitos trabalhistas “nem que a vaca tussa”, Dilma
fez o bicho pigarrear, segundo analistas políticos, ao tornar mais rígida as
regras de concessão de benefícios como o seguro-desemprego e o auxílio-doença.
Segundo
o cientista político da Fundação Getúlio Vargas Cláudio Couto, esse “ajuste”
entre campanha e realidade era esperado. “O discurso é sempre mais generoso.
Esse deslocamento marca as necessidades do governo. Mas, a lógica da
diferenciação usada na campanha cai por terra”, analisa.
Para
o especialista em marketing político Carlos Manhanelli, há uma “enorme incoerência”
entre o discurso e a prática da petista. “O maior ministério de Dilma é o da
propaganda, que não existe. A propaganda se mostrou distante dos números
oficiais da economia e dos resultados divulgados pós-eleições”, afirma.
Para
Manhanelli, o eleitor só começará a sentir o descompasso quando perceber no
bolso as mudanças nos benefícios trabalhistas. “A vaca tossiu, mas o cidadão
vai perceber mesmo quando ele precisar dos serviços alterados”, diz.
Durante
a campanha, Dilma bateu na tecla da garantia e ampliação dos direitos dos
trabalhadores e ganhos sociais para se distanciar do principal adversário, o
senador Aécio Neves (PSDB). Segundo o governo, as mudanças são para corrigir
distorções históricas do sistema.
Dentro
deste contexto, a cientista política Sandra Starling analisa que as mudanças,
justo na área trabalhista, são simbólicas. “É uma punição ao trabalhador. A
vaca nem precisou tossir, e ela já mudou as regras”, avalia.
(Tâmara Teixeira)
Segunda-feira,
5 de janeiro, 2015.
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