A
passagem do Lula por Brasília, para a cerimônia da segunda posse de Dilma,
resumiu-se ao abraço que deu na presidente da República, logo depois dela subir
a rampa do Planalto. Assim como chegou, partiu: meteoricamente. Deixou de
assistir a nomeação dos novos ministros para não cumprimentá-los, ficando
evidente não ser esse o time dos seus sonhos. Continuará à disposição da
sucessora, mas de longe. Se não for
procurado, não tomará a iniciativa de procurar. A tutela parece esmaecida e o
distanciamento tem um nome: chama-se Aloísio Mercadante.
O
chefe da Casa Civil, nas funções de primeiro-ministro de Dilma, vem trabalhando
há tempos para afastar a influência do ex-presidente no governo, acometido pelo
que se pode chamar de “síndrome do José
Dirceu”. Manobra para vir a ser o candidato em 2018, e conseguiu afastar do
núcleo mais denso do poder alguns esteios do Lula, como Jacques Wagner, exilado
no ministério da Defesa, Ricardo Berzoini, com a bomba da regulação social da
mídia pronta para explodir em suas mãos, no ministério das Comunicações, mais
Marco Aurélio Garcia, cada vez mais afastado da política externa, e Gilberto
Carvalho, turbinado para a estratosfera.
É
evidente ser muito cedo para armar a equação anti-Lula, ainda que Mercadante
recite todas as manhãs o velho provérbio árabe, de que “bebe água limpa quem
chega primeiro na fonte”. Na medida em que os ministros venham a passar pelo
seu gabinete, antes, depois ou mesmo sem ter
despachado com a presidente Dilma, o novo “capitão do time” ampliará seu
arco de influência. Conta com o apoio de Pepe Vargas, das Relações
Institucionais, para dialogar com o Congresso, e de Miguel Rosseto, na
Secretaria Geral, antípoda de Gilberto Carvalho.
Em
suma, as preliminares estão sendo colocadas, mesmo diante do imponderável. Pelo
que se ouve, o Lula está disposto a cultivar o PT a partir de suas bases,
dedicando especial atenção às eleições municipais de 2016 e estimulando a
renovação de seus quadros. O desgaste do partido ficará por conta do governo
Dilma. (Carlos Chagas)
Segunda-feira,
5 de janeiro, 2015
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