A
presidente Dilma Rousseff vai aproveitar a primeira reunião ministerial do ano,
na tarde desta terça-feira, para explicar a necessidade do ajuste fiscal e do
corte de gastos, sem abandonar a retórica social. Com um discurso otimista,
Dilma vai destacar que um novo ciclo de oportunidades será construído no País,
após a superação das dificuldades na economia. Ela pedirá unidade da equipe.
A
preocupação da presidenta está em enfrentar o desgaste das medidas impopulares
de forma assertiva, cobrando muito trabalho e criatividade. Auxiliares de Dilma
disseram ao Estado que ela pretende injetar ânimo na tropa, driblando a agenda
negativa da tesourada nos investimentos. A ideia é dizer que 2015 será um ano
duro, por causa do cenário mundial de incertezas na economia, mas, se a lição
de casa for feita, a colheita começará em 2016.
A
reunião com os 39 ministros ocorrerá na Granja do Torto, residência de campo da
presidente, e será seguida por um jantar de confraternização. Por ordem de
Dilma, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fará uma apresentação sobre as
novas medidas econômicas e a titular do Desenvolvimento Social, Tereza
Campello, falará sobre os resultados do programa Brasil Sem Miséria.
Dilma
baterá na tecla de que os direitos dos trabalhadores serão respeitados, apesar
do endurecimento das regras para concessão de seguro-desemprego, abono
salarial, pensão por morte e auxílio-doença, que devem provocar uma economia de
R$ 18 bilhões por ano aos cofres públicos. A ênfase nesse assunto não será sem
motivo. Na semana passada, a entrevista de Levy ao jornal britânico Financial
Times, durante sua passagem pelo Fórum Econômico Mundial, em Davos, repercutiu
mal no Palácio do Planalto, no PT e nos movimentos sociais.
Levy
disse que o atual modelo do seguro-desemprego está “completamente
ultrapassado”. A reação foi imediata. Após o protesto de representantes de
centrais sindicais, com quem o governo vem mantendo diálogo sobre as mudanças,
o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Miguel Rossetto, divulgou uma
nota jogando água na fervura. “O seguro-desemprego é cláusula pétrea. Assim
como o salário mínimo, jornada de trabalho, férias e aposentadoria fazem parte
do núcleo duro dos direitos dos trabalhadores e representam conquistas
civilizatórias”, escreveu Rossetto.
Para
o ministro, que terá nova reunião com os sindicalistas no dia 3 de fevereiro,
as medidas anunciadas pelo governo preservam os direitos e buscam responder às
“grandes e positivas” mudanças ocorridas no mercado de trabalho. Em conversas
reservadas, porém, deputados, senadores e até dirigentes do PT manifestam
desconforto com o fato de Dilma, em seu segundo mandato, só apresentar um “saco
de maldades” para a população, sem qualquer agenda positiva. (AE)
Terça-feira,
27 de janeiro, 2015
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