Quando
eu era menina, mas se bobear ainda gosto, jogava muito "quente ou frio?
"- para qualquer coisa. Você tentava adivinhar algo, ou encontrar um
objeto escondido, e se fosse chegando perto, a coisa ia esquentando, pegando
fogo... Se distanciasse, ia ficando frio, gelado, glacial! E caíamos na risada.
Como é bom cairmos na risada, coisa que há tempos não conseguimos fazer sem
culpa. E você, o que acha? Está quente ou frio? Sempre dependerá da pergunta.
Do momento. Do que estaremos falando.
Frio!
Obviamente me lembrei disso por causa do frio congelante que nesses dias anda
batendo aqui pelo Sudeste, Sul, intenso e deslocado de sua estação que ainda
aterrissará em breve em nossos ossos, e que se isso tudo já for ela mandando
recado antes de chegar vai ser mesmo de doer. Há décadas não aparecia assim,
tão real.
Quente!
Pleno inverno, mas os próximos três meses serão é ainda bem quentes por aqui
com tantas informações surgindo, fatos se sucedendo, artimanhas sendo tecidas
em gabinetes e pequenas conspirações orquestradas aqui e ali entre instâncias.
Quem consegue dizer o que será, será? Frio!
Quente!
Se a gente se afasta do panorama todo, tenta uma visão mais global, vê que
parece que estão sacudindo fortemente a bolinha Terra. Se alguma coisa já
estava fora da ordem, agora elas estão é totalmente bagunçadas. O clima é só
detalhe. Imigrantes gelando nos campos e mares, a candidata norte-americana
apelando até para ETs. E a loucura, a ignomínia, o preconceito, o fascismo e
seus extremos, outras margens que ainda insistimos em não ver por distantes
estarem e alegando outras culturas.
A
política e a religião andando juntas estão pondo (de novo) as manguinhas de
fora. A política a religião e o comportamento, então, se misturam e espirra
sangue fresco, jovem, em todos nós. Malucos solitários exercitando seus poderes
e forças, senhores das armas. O terror deixando o suspense no ar, seu cheiro de
enxofre e morte como possibilidade de explodir a cada segundo, em qualquer
lugar, trazendo dor e a imolação de inocentes. Tudo muito intenso, tanto quando
o quente e o frio. Não pode ser banal; nosso coração não pode achar que é isso
e acabou - o ódio se alastra, ultrapassa fronteiras. Cada vez mais rapidamente.
Fria.
Quando a política é a própria religião, vai virando adoração de ídolos,
catequização. Se apega a um dos lados com crença fervorosa, desconhecendo
evidências e fatos num fanatismo cego, embandeirado com centrais e camisetas
uniformizadas, massinhas. Vozinhas discordantes berrando aqui, ali, abaixando
as calças, gritando palavras de ordem sobre resistência, e ainda totalmente
alheias à realidade ao redor, o que realmente mais surpreende é que parece que
ainda não entenderam o que houve, onde bateram a cabeça. De outro, os símbolos
do atraso da mesma forma tentando se adiantar com suas ideias sempre burras e
grosseiras. Precisamos sair dessa fria.
A
temperatura nos faz lembrar que nunca estamos contentes se é quente ou frio, se
é pouco ou muito, ou porque não queremos nada em demasia, ou porque estaremos
sempre reclamando e pondo defeitos. É da nossa natureza. Deixar ventando
constante um calorzinho soprando na nuca de quem está com a caneta na mão.
Isso
é bom. Mas está quente ou frio? Frio. É a tal friaca, a palavra da semana.
"Seja quente ou seja frio. Não seja
morno, que eu te vomito."
(Apocalipse 3:15-16)
Marli
Gonçalves,
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