O
país enfrenta crises em todos os setores, e em todos eles o povo se defronta
com surpresas que provocam extrema indignação. Tais crises não tem origem
vindas apenas da corrupção, da desatenção ou da incompetência do homem. A maior
crise que nos atinge e nos fere, contudo, é de índole mais nociva do que a
histórica leniência da pública administração, aquela que nos aflige há
decênios. É a que não conseguimos superar, é a completa ausência de qualidades
morais no já combalido teatro da política. Nesta trincheira, são quase
palpáveis as consciências experimentadas em renúncias morais e acomodamentos
pessoais quando presentes a vantagem e o dinheiro fácil. O Brasil sonha
igualar-se aos EUA, mas não foi colonizado como os EUA, que receberam
fundamentos de convivência social pela imposição de regras rígidas transmitidas
ao povo inglês desde os romanos até os quakers, que exerciam valores morais
insuperáveis. Este era o verdadeiro tesouro da velha Albion, cujos princípios
transmitiram à população da distante colônia na América, inicialmente
catequisado por William Penn. Os pósteros também haverão de reconhecer que só o
tempo, esse elemento tão fluido que nos governa, é que ditará a consciência
cívica que necessariamente adquirirão os brasileiros no futuro, incorporados de
convicções ideológicas mais puras.
A
surpresa de hoje, embora a raiz da crise esteja entre as convicções ideológicas
mais nobres, não se inclui entre as farras proporcionadas por nosso modelo
político. Talvez a de hoje seja pior do que a da véspera. Trata-se aqui da
cooptação de inocentes brasileiros às concitações das igrejas chamadas
evangélicas, ou alternativas, que vem atuando no Brasil com extensa liberdade,
enquanto todos nós sabemos que se tratam elas de agências financeiras, embora
se preguem nelas os ideais da fé e da melhor conduta para se alçarem seus fiéis
à sublime vida eterna. Dirão seus donos que não agem contra a lei. É verdade,
porque o Brasil republicano é um estado laico. Mas é inadiável que seus adeptos
sejam esclarecidos (sem obstrução de sua opção religiosa) de que o resultado
final das pregações compõe uma monumental receita dos dirigentes de tais
organizações.
Para
tal comprovação, o espaço é pouco, mas o bastante para enumerar o patrimônio de
alguns dos pastores destas organizações (tudo expresso em dólares), como o
revela a conceituada e insuspeita revista Forbes. O sempre lembrado pastor Edir
Macedo encabeça a lista, acumulando um patrimônio de 950 milhões; quem o segue
é o “bispo” Waldemiro Santiago, acusando a revista como dono de uma cifra de
220 milhões; segue-o o pastor Silas Malafaia, que ostenta ativos de 150
milhões; em quarto, o sempre sorridente R.R. Soares, com 125 milhões, e, em
quinto, o “apóstolo” Estevam e a “bispa” Sonia, aquele simpático e jovem casal
que se alegra com seus 65 milhões.
Outros
menos votados exercem a mesma atividade, isto é, convencem sua plateia de que o
reino de Deus não é alcançável só pela fé.
O
Ministério Público Federal também pensa assim?
(José
Maria Couto Moreira)
Domingo,
05 de junho, 2016
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