Dia
desses, lendo o “Jornal de Notícias”, lá de Portugal, encontrei uma nota
interessante, daquelas que induzem algumas reflexões sobre o momento histórico
de um país - Brasil incluído.
Transcrevo
o texto: “O comissário europeu para a indústria alertou hoje a União Europeia
para o perigo que constituem as aquisições de controlo realizadas por
estrangeiros, sobretudo por chineses, considerando que essa prática se insere
numa estratégia política”.
“As
companhias chinesas que podem pagar compram mais e mais empresas europeias, nas
quais as principais tecnologias ocupam sectores-chave. Tratam-se de
investimentos mas, por detrás disso, também é uma estratégia política, à qual a
Europa deve responder politicamente”, declarou Antonio Tajani.
E
prossegue o respeitado periódico português: “Considerando que a União Europeia
deverá proteger os principais sectores estratégicos das aquisições de controlo
realizadas por capitais estrangeiros, o comissário europeu propõe, para tal, a
criação de uma autoridade para rever os investimentos estrangeiros na Europa,
como é o caso do Comitê de Investimentos Estrangeiros, sediado nos Estados
Unidos. Para Tajani, essa autoridade destinar-se-ia a apurar com precisão se as
compras a realizar por companhias estrangeiras privadas ou públicas são
perigosas ou não”.
Fecha
a matéria a seguinte oração: “As declarações de Antonio Tajani ocorrem numa
altura em que várias empresas chinesas aumentam o lote de aquisições na
Europa”.
Tradução:
os Estados Unidos da América já se protegeram e a União Europeia já acordou
para o problema - discute-o intensa e extensamente. Enquanto isso, nos últimos
anos, inacreditáveis 60% das empresas brasileiras negociadas foram parar nas
mãos de estrangeiros. Foi assim que chegamos ao insólito país cujos habitantes
compram o leite de suas próprias vacas, a água mineral de suas próprias
nascentes e a maioria dos produtos de sua própria terra de empresas estrangeiras
nela instaladas.
Da
indústria alimentícia à mineração, da comunicação à siderurgia, dos transportes
à energia, muito do que o Brasil possuía de melhor foi vendido a grupos
estrangeiros. Parece incrível, mas empresas estrangeiras já são responsáveis
por 70% de nossas exportações de soja, 15% das de laranja, 13% de frango, 6,5%
de açúcar e álcool e 30% das de café! Só isto já sangra o Brasil em mais de US$
12 bilhões a cada ano apenas a título de remessa de lucros. Imagine o cenário
completo!
O
pior é que tudo isto acontece sem que haja reciprocidade sequer razoável por
parte deste mundo tão globalizado! A quem duvidar procure pelo planeta afora um
país - um único que seja - no qual empresas brasileiras, públicas ou privadas,
sejam responsáveis por alguns dos mais estratégicos setores da economia - algo
que temos testemunhado em nossa terra há décadas. Se alguém aí souber de tal
país, por favor nos avise!
Ao
contemplar este quadro fico a pensar se não temos confundido globalização com
desnacionalização, economia com extrativismo, desenvolvimento tecnológico com
importação, autoridade com arbitrariedade ou até mesmo fatalismo com apatia.
Dizem
alguns que o Brasil cresceu nas últimas décadas. Fico a me perguntar, e vai aí
uma grande pergunta, quem tem crescido verdadeiramente - se o Brasil,
exportador cada vez maior de riquezas em sua maioria não-renováveis, ou se
empresas estrangeiras aqui instaladas. Confesso não ter encontrado, ainda,
resposta a esta questão...
*****Pedro Valls Feu Rosa é
desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.
Domingo, 12 de junho, 2016
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