Perguntar
não ofende: qual o objetivo de quem é contra o impeachment de Dilma Rousseff e
está queimando pneus em estradas, invadindo prédios da Cultura, gritando “Fora
Temer” na parada LGBT, exibindo cartazes no exterior para dizer que “there is a
coup in Brazil”? E qual o objetivo de quem é a favor do impeachment, mas torce
contra o governo interino de Michel Temer, condena as propostas para combater o
rombo das contas públicas e repudia a indispensável reforma da Previdência?
Tanto
quem é a favor quanto quem é contra o afastamento de Dilma tem de ter em mente
a responsabilidade coletiva com a história e que só há três saídas para um país
mergulhado em tantas crises. Fora disso, não há alternativa, a não ser
anarquia.
Uma
saída é dar uma trégua para Temer governar e a equipe de Henrique Meirelles
tentar por a economia em ordem nesses dois anos e meio, para entregar para os
eleitores em 2018 um país razoavelmente saneado. Temer não é perfeito e o PMDB
tornou-se muito imperfeito, mas ele foi escolhido por Dilma e por Lula e eleito
na chapa do mesmo PT que anima os queimadores de pneus, os invasores da
Cultura, os que gritam “Fora Temer” e uma turma que mora fora – uns, há tantas
décadas, que deveriam estar mais preocupados com o Trump.
Além
de habitar o Jaburu, Temer despacha agora no Planalto por força da
Constituição, que assim determina: sai um(a) presidente, assume o vice. Não
importa se é bonito, feio, gordo, magro, se é Itamar Franco ou se é Michel
Temer. Ele está lá, e o Brasil, os brasileiros, a indústria, o comércio e os 11
milhões de desempregados precisam desesperadamente que comece a equilibrar as
contas públicas e a fazer a economia andar.
A
saída número 2 é a volta de Dilma. Sério mesmo, alguém deseja de fato a volta
de Dilma, com sua incapacidade de presidir o País, negociar com o Congresso,
ouvir os conselhos do padrinho Lula ou, aliás, ouvir qualquer expert de
qualquer área sobre qualquer coisa? No aconchego dos seus lares, na convivência
com familiares, amigos e vizinhos e nas conversas com seus travesseiros – e com
o próprio Lula –, será que os petistas de raiz querem mesmo a volta de Dilma?
Os
deputados não são lá essas coisas, mas acataram o impeachment pelo crime de
responsabilidade fiscal, previsto na Constituição e confirmado pelo resultado
final: um rombo que o governo Dilma admitia ser de R$ 96,6 bilhões e que a
equipe de Meirelles descobriu bater em R$ 170 bilhões. Mas, além do fato
formal, deputados e senadores tocaram o processo adiante pelo desmantelamento
da economia, o esgarçamento das relações políticas e porque Dilma conseguiu ser
a presidente mais impopular do país desde 1985.
A
opção 3 (dos favoráveis e contrários ao impeachment) seria a antecipação de
eleições diretas, empurrando Temer ou Dilma para a renúncia (dependendo de o
Senado confirmar ou não o impeachment), ou dando um golpe branco e mudando a
Constituição por questões conjunturais. E o que viria depois? Uma eleição às
pressas, sem que os partidos tivessem se preparado e sem candidatos à altura da
crise. Dá um frio na espinha pensar nos aventureiros que se lançariam como
salvadores da pátria, da ética, da economia, dos “bons costumes”, da “ordem”
deles, do “progresso” deles.
Isso
não é brincadeira. O seguro, que morreu de velho, recomenda respeitar a
Constituição, o Congresso que o eleitor elegeu e a posse do vice que 2014 jogou
no Jaburu, na perspectiva de assumir com o afastamento constitucional da
presidente. Vale, sim, gritar contra muitas coisas, inclusive a nomeação de um
ministro da Transparência indicado, ora, ora, pelo senador Renan Calheiros. Mas
o esforço para derrubar Temer, neste momento, é trabalhar contra o Brasil.
Por: Eliane Cantanhêde
Terça-feira,
02 de maio, 2016
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