O
juiz Sérgio Moro rejeitou o pedido da defesa da mulher do ex-presidente da
Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB), Cláudia Cordeiro Cruz, para não
ser julgada pelo juiz da Lava Jato, mas sim na Justiça Federal no Rio de
Janeiro. Para Moro, a alegação da defesa de Cláudia de que as movimentações nas
contas bancárias dela no exterior não têm relação com o esquema de corrupção na
Petrobrás “não faz sentido”.
Com
a decisão, fica mantido para o próximo dia 14 de novembro o interrogatório de
Cláudia diante de Moro para que ela se manifeste sobre as acusação da Lava
Jato.
“E
a alegação de que as condutas imputadas à acusada Cláudia Cordeiro Cruz não
estariam relacionadas à corrupção na Petrobrás não faz sentido, pois é ela
acusada exatamente de ocultação e dissimulação de produto de crime de corrupção
no esquema criminoso da Petrobrás”, assinala o juiz. “Se houve ou não lavagem,
se agiu ela ou não com dolo (intenção), é questão de mérito e não de
competência”, segue Moro.
A
decisão é mais uma derrota do casal Cunha na tentativa de evitar ser julgado
pelo juiz Sérgio Moro, que determinou a prisão preventiva de Eduardo Cunha no
mês passado, levando o ex-presidente da Câmara e responsável por aceitar a
abertura do processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT) para a prisão em
Curitiba junto com outros grandes empresários e políticos detidos na Lava Jato.
Na
decisão desta segunda-feira, 7, Moro apontou que o próprio Supremo Tribunal
Federal remeteu a investigação sobre os parentes de Eduardo Cunha e a até a
ação penal contra ele, aberta pelo STF quando o peemedebista ainda tinha
mandato, para a 13ª Vara Federal em Curitiba, de responsabilidade de Moro.
“Dispersar,
em todo território nacional, os casos e provas de crimes praticados em um mesmo
contexto e no mesmo esquema criminoso prejudicará as investigações e a
compreensão do todo”, assinalou o magistrado, lembrando que a ação contra
Cláudia Cruz está diretamente ligada ao esquema de corrupção na Petrobrás
revelado pela Lava Jato. “A denúncia descreve, aliás, um caso que se insere
perfeitamente no modus operandi do esquema criminoso da Petrobrás”, segue o
magistrado.
Atualmente,
Cláudia é ré acusada de evasão e lavagem de ao menos US$ 1 milhão em contas não
declaradas no exterior. Segundo a Procuradoria da República, estes valores
vieram de propinas recebidas por Eduardo Cunha para “viabilizar” a aquisição,
pela Petrobrás, de 50% do bloco 4 de um campo de exploração de petróleo na
costa do Benin, na África, em 2011.
Com
apoio do Ministério Público da Suíça, a Lava Jato rastreou os recursos que
aportaram na conta de Cláudia e identificou que eles foram utilizados, por
exemplo, para pagar compras de luxo feitas com cartões de crédito no exterior.
Parte
dos gastos dos cartões de crédito, que totalizaram US$ 854.387,31, foram
utilizados, dentre outras coisas, para aquisição de artigos de grife, como
bolsas, sapatos e roupas femininas. Outra parte dos recursos foi destinada para
despesas pessoais diversas da família de Cunha, entre elas o pagamento de
empresas educacionais responsáveis pelos estudos dos filhos do deputado
afastado, como a Malvern College (Inglaterra) e a IMG Academies LLP (Estados
Unidos).
Cláudia
ainda teria mantido, segundo a denúncia, depósitos não declarados às
repartições federais na offshore Köpek em montante superior a US$ 100 mil entre
os anos de 2009 e 2014, o que constitui crime contra o sistema financeiro
nacional.
Interrogatório.
Moro agendou o interrogatório de Cláudia e do empresário Idalécio de Oliveira,
também réu na ação, para o dia 14 de novembro, seis meses depois de o juiz da
Lava Jato aceitar a denuncia contra a mulher de Cunha. Antes, no dia 9, serão
interrogados o ex-diretor Internacional da Petrobrás Jorge Luiz Zelada e o
lobista João Augusto Rezende Henriques, apontado como operador do PMDB no
esquema de corrupção na Petrobrás. Ambos também são réus na mesma ação de
Cláudia.
O
interrogatório é a última etapa antes de o juiz ouvir as alegações finais das
defesas. Nele os réus ficarão frente a frente com Moro e poderão responder a
todas as acusações do Ministério Público Federal. Eles poderm exercer o direito
de permanecer em silêncio.
A
defesa de Cláudia vem alegando desde o começo da ação que ela não tinha
conhecimento nem nenhum tipo de envolvimento com os negócios de Cunha. A
reportagem tentou contato com a defesa de Cláudia na noite desta terça-feira,
8, mas não obteve retorno. (AE)
Quarta-feira,
09 de novembro, 2016
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