Seis
meses após o afastamento de Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, ministros da
ex-presidente começam a voltar ao trabalho sem perspectiva de retorno à
política a curto prazo. Eles estavam de “quarentena”, que terminou no dia 12,
recebendo integralmente os mesmos vencimentos de quando estavam no governo, sob
os auspícios da Comissão de Ética Pública, cujos membros foram, nomeados pela
ex-presidente.
É
o caso do ex-chefe da Casa Civil Jaques Wagner, que mora em Salvador. Se
dependesse do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Wagner comandaria o PT.
Mas ele já avisou a Lula que não entrará nessa briga. Wagner foi convidado pelo
governador da Bahia, Rui Costa, para assumir a Fundação Luís Eduardo Magalhães,
destinada a formular políticas públicas.
Antes,
o poderoso ministro de Dilma havia sido chamado para a Secretaria de Relações
Institucionais da Bahia, mas recusou a oferta. Ex-governador do Estado de 2007
a 2014, disse preferir um cargo com menos visibilidade, a exemplo de Dilma, que
vai para o Conselho da Fundação Perseu Abramo. Embora rejeite ficar à frente do
PT, Wagner visitou, nos últimos meses, vários diretórios da sigla. “Não preciso
presidir o partido para contribuir”, disse ele, cotado para disputar o Senado.
A
mesma frase é repetida pelo ex-ministro da Secretaria de Governo Ricardo
Berzoini, que jura não querer voltar de jeito nenhum a dirigir o PT. Integrante
da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), liderada por Lula, Berzoini
chegou a participar de reuniões do grupo Muda PT, que reúne tendências de
esquerda. Atuou como uma espécie de bombeiro na crise petista, que só aumentou
após o impeachment de Dilma, na esteira da Lava Jato, e o fiasco nas eleições.
“Mas eu sempre avisei: E se for para discutir nomes para a presidência do PT,
estou fora. O momento é de tornar o PT coeso, não de ficar se engalfinhando”,
insistiu Berzoini.
Funcionário
concursado do Banco do Brasil há 38 anos, o ex-ministro se reapresentou ao
trabalho e contou ter sido “realocado” em um setor da instituição, em Brasília.
Tem, no entanto, férias a cumprir. Além disso, já pode se aposentar, se quiser.
“Até o fim deste ano vou decidir o que fazer. Estou tranquilo”, afirmou. “Você
já leu A Insustentável Leveza do Ser? Eu estou assim, lendo algumas coisas de
novo e pensando no que quero ser, sem ansiedade”, disse, em referência ao livro
de Milan Kundera.
Quase
a metade da equipe de Dilma cumpriu “quarentena” porque se habilitaram à
mamata, solicitaram e obtiveram o privilégio da Comissão de Ética da
Presidência da República, a pretexto de "evitar conflito de interesse de
quem sai de um cargo público para exercer funções na iniciativa privada."
Críticos
do governo Michel Temer, os ex-ministros ganharam, nesse período, o mesmo
salário de quando estavam na ativa: R$ 30,9 mil mensais. Alguns deles, como
Wagner e Berzoini, tiveram os nomes citados por delatores da Lava Jato, mas
negam irregularidades.
‘No
campo’.
“Eu
também voltei ao meu órgão de origem, que é a roça aqui em Alagoas”, brincou o
ex-ministro do Esporte Aldo Rebelo. Jornalista, Aldo está escrevendo dois
livros e passa boa parte do tempo no seu sítio em Viçosa, no Estado nordestino.
Uma das obras já tem até título: A Copa que o Brasil venceu. A outra é um
balanço sobre o Código Florestal. Ex-presidente da Câmara, filiado ao PCdoB,
Aldo disse que, por enquanto, não planeja se candidatar às eleições para
deputado, em 2018. Na prática, porém, sonha com o Senado. “Não digo que sim nem
que não, mas estou pensando em trabalhar como jornalista.”
Aloizio
Mercadante, que foi titular da Educação e da Casa Civil, continua morando em
Brasília, mas não tem ido a reuniões do PT. Lê muito e gosta de mostrar fotos
dos netos. Ele pediu aposentadoria proporcional ao Senado. Sua assessoria
informou que computou o tempo de trabalho como professor e deputado federal e
não apenas de senador, de 2003 a 2010.
Advogado
de Dilma no impeachment, José Eduardo Cardozo reassumirá na quarta-feira o
cargo de procurador do Município de São Paulo. Ex-ministro da Justiça e
ex-advogado-geral da União, ele trabalhará para a Prefeitura a ser comandada
por João Doria (PSDB), mas no escritório de Brasília. Em breve, porém, deve
pedir licença de novo. Ele vai se associar ao escritório Celso Cordeiro e Marco
Aurélio Carvalho e coordenará o Departamento de Direito Administrativo. Para
Temer, Cardozo prevê um futuro “sinistro”. “É um governo que terá muita
dificuldade de chegar ao fim.”
Segunda-feira,
13 de novembro, 2016
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