O
crime não é comprar um apartamento, mesmo de luxo, a preço incompatível com a
renda do comprador. Crime é permitir que uma empreiteira envolvida em corrupção
com dinheiro da Petrobras se encarregue das obras de reforma e complementação do
imóvel, sem ônus para o proprietário. Fica evidente a relação entre a empresa e
o beneficiário, em especial se ele foi presidente da República e favoreceu a
outra parte flagrada pela Justiça praticando negócios ilícitos como
superfaturamento de contratos, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha,
entre outros. Sobre o Lula pesa a acusação de ocultação de patrimônio. É o que deve enfrentar, prestes a ser
denunciado pelo Ministério Público de São Paulo. A empreiteira OAS assumiu a
construção do empreendimento e entregou as chaves do imóvel ao ex-presidente da
República sem que até agora ele tenha provado que pagou pelo serviço.
Cabe
ao PT defender seu criador? Por questão de lealdade, não. Afinal, o partido
nada tem a ver com as atividades privadas do Lula. As conferências que
pronunciou, as viagens que fez ao exterior, financiadas por empresas cujos
interesses defendeu junto a governos estrangeiros, incluem-se no rol das
práticas contrárias à imagem que deveria preservar. A cada dia, como agora no
caso do apartamento tríplex no Guarujá, surgem novas denúncias de malfeitos
debitados à ação irresponsável do Lula.
A
pergunta que se faz é se, condenado ou não em longos e arrastados processos na
Justiça, ele terá o respaldo dos companheiros para candidatar-se à sucessão de
Dilma Rousseff, em 2018. Tudo indica que se tiver vontade, será lançado, mas
enfrentará profunda reação de seus adversários. Precisará defender-se em cada
palanque ou debate a que compareça.
Correrá o risco de rejeição em suas próprias bases.
Será
diante dessas dúvidas que o Lula decidirá. Claro que voltar a ser presidente
constitui seu principal objetivo, mas disputar sem a certeza da vitória
constituirá um risco. Ainda mais frente
a uma performance mais do que sofrível da sucessora, que precisará contestar
caso eleito. Há quem recomende que salte de banda, mesmo sem perspectiva de ser
substituído por outro companheiro.
Em
suma, o ex-presidente não está premido pelos fatos. Há tempo para decidir-se.
Mas entre correr o risco da derrota ou saltar de banda, sempre haverá o sonho
de reviver tempos que possivelmente não voltam mais.
(Carlos
Chagas- Diário do Poder)
Terça-feira,
26 de janeiro, 2016
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