Do
palácio do Planalto, más notícias: entrou em terreno de areia movediça o
projeto de reformas econômicas destinadas a superar a crise e retomar o
desenvolvimento, com o combate ao desemprego e a alta de impostos e do custo de
vida. Acirra-se o eterno conflito entre o capital e o trabalho, porque as
empresas exigem crédito mais fácil, desoneração fiscal, contenção salarial,
desburocratização e livre negociação entre patrões e empregados. Já as centrais
sindicais querem imposto sobre grandes fortunas e heranças, correção de
salários, manutenção de direitos trabalhistas e garantia de emprego.
O
choque é evidente, a ponto de levar o governo a arrefecer o ímpeto reformista e
reduzir reformas que na teoria poderiam conduzir a mudanças de vulto na
situação econômica. Se a montanha vai gerar um rato, os gatos continuarão
soltos e o país não sairá do sufoco.
Tome-se
a reforma da Previdência Social. Os custos de uma necessária redução de
despesas cairão sobre os ombros dos aposentados e seus benefícios, a começar
pelo tempo de idade dos que adquirem o direito de parar de trabalhar. Mas
continuando a valer as atuais regras do jogo, logo a Previdência Social
explodirá as contas públicas e levará o país à falência. Os dois lados permanecem irredutíveis. Se as coisas ficarem como estão, o inevitável
aumento de impostos alimentará a inflação, o desemprego e a estagnação econômica,
mas se a conta for canalizada para os assalariados, mais cruel se tornará a
retomada do crescimento.
Dividir
o sacrifício entre empresários e trabalhadores pode dar certo na teoria, mas
seria preciso coragem e vontade política dos dois lados, bem como imaginação
por parte do governo, produtos em falta nas prateleiras da política
econômica. A presidente Dilma gira em
círculos, importando menos se dá ouvidos a Joaquim Levy, a Nelson Barbosa ou a
nenhum. Ambos são faces da mesma moeda,
se não aparecer uma liderança capaz de enquadrá-los. Madame poderia exercer
esse papel, mas tanto o empresariado quanto as centrais sindicais desconfiam
dela. Até o PT mostra-se dividido.
Quando
se fala em reforma trabalhista, leia-se a redução de direitos sociais
substituídos pela livre negociação entre patrões e empregados. Na realidade, o
diálogo entre a guilhotina e o pescoço.
(Carlos
Chagas)
Quinta-feira,
07 de janeiro, 2015
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