Calcula-se
que em política não há coincidências, valendo prospectar porque, de duas
semanas para cá, o couro vem cantando no lombo do chefe da Casa Civil, Jaques
Wagner. Afinal, seus dois mandatos no governo na Bahia, sua escolha para
primeiro-ministro da presidente Dilma e sua performance no palácio do Planalto
vinham sendo saudados como dos raros aspectos louváveis do PT e do governo.
De
repente, desaba a tempestade sobre o personagem, com suposições de sua
participação em maracutaias eleitorais e até referências na Operação Lava Jato.
Há
que atentar para a evidência de que tudo acontece depois de o Lula perder
altura como obvio candidato natural do PT à sucessão de 2018. No PT,
registrou-se muita ebulição, com o próprio ex-presidente reagindo à crise
econômica e sugerindo propostas que a presidente Dilma ignora. Ainda mais
depois de referências ao seu filho mais novo em atividades pouco claras. Apesar
de continuarem se encontrando com periodicidade, antecessor e sucessora
divergem cada vez mais, com Jaques Wagner chefiando a resistência de Madame,
peça fundamental para a queda de Joaquim Levy do ministério da Fazenda. A bolha
estourou quando, entre parte dos companheiros, o principal auxiliar começou a
ter seu nome lembrado como alternativa para a indicação presidencial. Muitos
entendem tratar-se de um sacrilégio, além de uma hipótese quase impossível o
afastamento do Lula. Mesmo assim, incomoda. Eis a coincidência, em especial
quando Wagner colocou em campo um exército de coelhos. De seu próprio partido
foram disparados petardos, claro que também acionados de trincheiras variadas. Existem ministros felizes com a blitz. Da
mesma forma, gente no PMDB, para não falar das oposições.
Não
tivesse o ex-governador sido mencionado como alternativa sucessória e não
estaria sendo alvo antecipado.
OS
RICOS E OS POBRES
O
passado costuma sempre apontar o que devemos evitar, mais do que o que fazer.
Há exceções, no entanto. Will Durant, na sua magistral “História da
Civilização”, conta que nos séculos de Augusto a Marco Aurélio, na maioria das
municipalidades da península, assembleias escolhiam os governantes, magistrados
e demais autoridades. Só que eles se obrigavam a dar às cidades apreciável
quantidade de dinheiro em troca do privilégio de servi-las. O costume
determinava que fizessem donativos para o bem público. Os cargos não tinham
remuneração, e além de obras públicas como estradas, pontes, aquedutos e
bibliotecas, também teatros, jogos, templos, e banhos eram por conta da
municipalidade. É claro que a aristocracia unia-se à oligarquia, em detrimento
da imensa maioria de pobres, mas nunca o rico fez tanto pelo pobre, até
fornecendo viveres grátis em tempos de carestia. Em retribuição as cidades
votavam aos doadores estátuas e inscrições. Os pobres não se entusiasmavam
muito, pois acusavam os ricos de haver enriquecido às custas deles e pediam
menos edifícios belamente ornados e mais trigo em conta.
A
diferença é de que dois mil anos depois dos romanos assistimos autoridades,
magistrados e governantes não apenas muito bem remunerados, mas continuando a
prática do enriquecimento às custas do conluio entre aristocratas e oligarcas.
Só que o rico, agora, faz muito menos pelo pobre...
(Carlos
Chagas)
Segunda-feira,
11 de janeiro, 2016
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