Nunca
se viu sujeira igual à que escorre das delações premiadas dos últimos meses,
dentro da Operação Lava Jato e adjacências. Dos delatores mais recentes, não
escapa a acusação sobre nenhum presidente da República, exceção dos anos em que
Itamar Franco exerceu o cargo. Os maiores beneficiados dessa operação tem sido os
delatores, por sinal os formadores de quadrilha, os mais ladrões, com raras
exceções. O último exemplo é o tal Cerveró. Não dá para entender porque ele e o
bando dos assaltantes dos cofres públicos gozam de tantas regalias, como prisão
domiciliar, férias de Natal e Ano Novo e regime prisional especial para os que
ainda não se livraram das grades.
A
Polícia Federal, o Ministério Público e até certas instâncias do Poder
Judiciário fazem o dever de casa, mas são tantas as brechas da lei que a
maioria dos meliantes sob processo situa-se em patamar especial. Oldbretches e
Dirceus ainda respondem pelo mal praticado, mas no mundo político sobram
acusações óbvias de crimes sem punição para os autores denunciados. Pelo
contrário, eles disputam ainda maiores espaços de poder, debaixo da
complacência do poder que deveria abrir investigações e puni-los.
Essa
seria a primeira mudança institucional de vulto a ser promovida para o país
sair do lamaçal onde se encontra. A lei precisa não apenas ser dura, mas igual
para todos. Do ladrão de galinha ao assaltante e o assassino, quem respondeu a
processo e foi condenado costuma sofrer as penas correspondentes. Exceção, é
claro, daqueles capazes de comprar a liberdade pelo dinheiro ou a influência.
Por
que, então, essa nova classe de bandidos mantém-se à margem da correnteza?
Porque são eles não apenas a fazer as leis, mas a valer-se de suas brechas que
há muito precisariam ter sido vedadas. Encontram-se imunes até ex-presidentes
da República, atuais presidentes do Senado, na Câmara, parlamentares, ministros
e ex-ministros, sem esquecer antigos e atuais governadores. Seria constrangedor
citá-los, mas basta ler os jornais do dia. Enquanto a impunidade continuar encontrando
espaços para manter-se e até expandir-se, continuaremos uma nação dupla: a dos
que pagam e a dos que se mantém imunes.
Agora
que começam a ser antecipadamente discutidas as preliminares da sucessão
presidencial de 2018, com tantas especulações vãs e inconsistentes, torna-se
necessário indagar porque não apareceu, até agora, um pré-candidato disposto a
sustentar que lugar de ladrão – qualquer ladrão – é na cadeia. Nenhum dos nomes sugeridos disse uma
única palavra a respeito do que fazer para interromper a impunidade. Se a falha
está na complacência da lei, que se mude a lei. De preferência pelo voto.
O
que fará Aécio Neves se porventura eleito? Protegerá tucanos envolvidos nas
tramoias do período em que Fernando Henrique governou o país? Geraldo Alckmin
terá coragem para denunciar e mandar punir correligionários mergulhados em
negociatas ainda hoje denunciadas em São Paulo? E José Serra, continuará
preocupado em recuperar as finanças nacionais sem atingir políticos e
empresários dispostos ao redor de sua candidatura? O Lula, ele mesmo arcabuzado
na família e nos fiéis companheiros, permanecerá recomendando olhar o futuro e
esquecer o passado? Michel Temer insistirá na proteção aos membros da quadrilha
que forma ao seu lado? Ciro Gomes irá poupar líderes corruptos de seu novo
partido empenhados em fazê-lo candidato? Marina Silva poupará os ambientalistas
favoráveis à depredação da natureza, desde que apoiando sua nova tentativa de
levá-la ao Planalto? A relação parece não ter fim, quando se chega a Jair
Bolsonaro, Ronaldo Caiado e outros pretendentes que se disponham a transformar
o Brasil sem transformar suas concepções. Permanecem mudos. Uma palavra que
seja para extirpar a impunidade bastaria para destacá-los dos demais, mas qual
deles se dispõe?
(Carlos
Chagas)
Quarta-feira, 13 de janeiro, 2016
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