Com
mais de 2 milhões de assinaturas colhidas em todas as regiões do País, o
projeto 10 Medidas Contra a Corrupção, iniciativa do Ministério Público
Federal, encerra mais uma etapa nesta terça-feira, 29, com a entrega das
rubricas em cerimônia no Congresso Nacional. A campanha é coordenada pela
Câmara de Combate à Corrupção da Procuradoria e foi lançada em 27 de julho de
2015. Com o suporte das ruas e o trabalho de voluntários em todo o País, em
sete meses o 10 Medidas superou a marca de 1,5 milhão de adesões necessárias
para que a campanha pudesse ser apresentada ao Parlamento como um Projeto de
Lei de Iniciativa Popular, a exemplo do que ocorreu com a Lei da Ficha Limpa.
O
projeto, sem vínculo partidário, propõe mudanças na legislação para coibir e
punir com mais rigor os crimes de corrupção. De acordo com a Procuradoria, a
campanha abrange cerca de 20 projetos de lei que já existem, mas que se
arrastam ou estão parados no Congresso. O projeto contempla medidas como a
criminalização do enriquecimento ilícito, o aumento das penas para corrupção de
altos valores, a reforma no sistema de prescrição penal, a celeridade nas ações
de improbidade administrativa, a responsabilização dos partidos políticos e a
criminalização do caixa 2. Por ano, calcula o Ministério Público Federal, a
corrupção provoca perdas de pelo menos R$ 200 bilhões para o País.
"Estamos
otimistas. Como de iniciativa popular, o 10 medidas pode ajudar a tornar a
Justiça mais célere e eficiente. O Congresso representa a sociedade e tem de
ouvir a vontade das ruas nesse caso", diz a procuradora da República
Thaméa Danelon, que coordena o projeto em São Paulo.
No
Estado, foram coletadas cerca de 360 mil assinaturas, 24% do total recolhido em
todo o País. O objetivo do projeto, diz a procuradora, é tornar o processo mais
dinâmico.
Ela
lembra o caso do juiz Nicolau dos Santos Neto, condenado a 26 anos e seis meses
de prisão pelos crimes de desvio de verbas, estelionato e corrupção na
construção do Fórum Trabalhista de São Paulo. Até a condenação definitiva, sem
a possibilidade de recursos, foram 23 anos. Condenado a 31 anos de prisão na
mesma ação do juiz Nicolau, o ex-senador Luiz Estevão, nos dez anos que se
seguiram à condenação, apresentou 34 recursos aos tribunais superiores. O
ex-senador foi preso em 8 de março passado.
"Hoje
temos muitas brechas, muitos mecanismos que atrasam o processo. Nosso
propósito, com o 10 Medidas, é deixar o processo mais dinâmico, mais razoável,
sem prejuízo, obviamente, do investigado", afirma Thaméa. Para a
procuradora, também não é razoável, por exemplo, a pena mínima para crimes de
corrupção (2 anos) ser menor que a de roubo (4 anos). "Temos de inibir o
colarinho branco", diz.
O
empresário Emerson Granemann, de Curitiba - terra da Operação Lava Jato -, vai
participar do ato em Brasília como voluntário. Ele diz que, se o Congresso
quiser, aprova o 10 Medidas até o fim do ano. "É possível, mas é
importante que não haja alterações do conteúdo do projeto pelos parlamentares.
Vamos pressionar o Parlamento para que o projeto se torne lei", diz o
empresário.
Segundo
ele, o grupo de voluntários do qual faz parte vai mapear a posição dos
deputados em relação às medidas propostas pela campanha. "Quem votou
contra, a favor, vamos fazer um placar para que a sociedade acompanhe esse
processo."
Para
ele, o trabalho da Lava Jato também depende do 10 Medidas. "Assim como é
importante investigar, é essencial, para o futuro, criar mecanismos, leis, que
inibam a prática de corrupção. Ideal é que quem pratica corrupção hoje e é
punido não se sinta mais estimulado a fazer de novo."
Nesta
terça-feira, 29, em Brasília, antes da entrega oficial das rubricas aos
parlamentares - deputados da Frente Parlamentar de Combate à Corrupção devem
receber o grupo no Congresso -, haverá uma cerimônia no auditório da
Procuradoria-Geral da República, onde, de maneira simbólica, a Procuradoria
devolverá as assinaturas que foram colhidas desde o início da campanha para que
os cidadãos voluntários façam a entrega aos congressistas.
Cerca
de 100 voluntários vão levar, cada um, um pacote de mil assinaturas. O grupo
sairá em caminhada da Procuradoria até a Câmara dos Deputados. (AE)
Domingo,
27 de março, 2016
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