Não
precisamos de videntes, quiromantes nem bolas de cristal. Saber o que vai
acontecer é seguir a natureza das coisas. Amanhã, quarta-feira, o Supremo
Tribunal Federal dará início à elaboração do novo ritual capaz de regulamentar
os mecanismos de perda de mandato de deputados e senadores quando acusados de
praticar ações ilícitas no exercício de suas atribuições.
A
mais alta corte nacional de justiça deverá determinar que, para ser julgado e
perder seu mandato, o deputado ou senador precisará ter contra ele, em votação
nominal, dois terços de seus pares. Sendo deputado, o processo irá ao Senado,
para autorizar ou não o julgamento. Em caso positivo, caberá aos senadores
abrir o processo relativo, em sessões presididas pelo presidente do Supremo.
Mas se o presidente da República não tiver vindo do Congresso?
O
alçapão estará aberto e, mesmo demorando alguns dias, estará fulminado, caso os
deputados autorizem seu fuzilamento. Se for senador, mais fácil ainda, pois a
autorização inicial equivalerá ao resultado final da decisão. Não sendo
parlamentar, a queda será maior.
O
problema é saber o que acontecerá à presidente Dilma Rousseff. Noves fora o
ritual e as etapas para acusação, defesa e oitiva de testemunhas, depois que
for caracterizada como ré, Madame será afastada do exercício da presidência da
República, até o final do julgamento. Assumirá interinamente o vice Michel
Temer.
Suponhamos
essa hipótese. O que fará Dilma? Enquanto afastada de forma provisória,
provavelmente não fará nada, exceção de reunir-se diariamente com seus
advogados para cuidar da defesa.
Depois,
na hipótese da condenação, se não o fez antes, estará cuidando do próprio
futuro. Primeiro, decidir onde vai morar: Porto Alegre, Brasília ou mesmo Rio
ou São Paulo? A que atividades se dedicará? Economista, dirigente de empresa,
aposentada ou pronta para começar a redigir suas memórias? Editores não lhe
faltarão, muito menos convites para consultorias ou bissextas palestras pelo
planeta. Viagens ao exterior não parecem certezas, afinal, uma de suas
características no poder não terá sido a de amealhar dinheiro fácil, como
certos antecessores. Dar aulas sempre será possível, mas difícil, dado seu
temperamento.
Mais
conflituosos serão seus primeiros dias fora do poder. Ao sair, precisará
despedir-se de seus ministros e auxiliares, situação constrangedora para todos.
Reconhecer erros não parecerá fácil, quem sabe uma dose de humildade
abrilhantará derradeira passagem pelo governo? Dirigir-se ao sucessor
equivalerá a deglutir pílulas amargas, mas necessárias, porém que mensagem
dedicará ao antecessor? Certamente reverenciais, até amenas, mas em momento
algum significando submissão à responsabilidade pela débâcle. Se ela teve
culpa, e grande, ele teve pior, como artífice de toda a trapalhada. A partir do
impeachent, mais se afastarão suas relações, sobrando a triste conclusão de
nenhum dos dois haver deixado herdeiros. Ao povo, Dilma dedicará alguma
mensagem? Getúlio Vargas deixou o mais importante documento de nossa História.
Fernando Collor, nenhum...
Carlos
Chagas
Terça-feira,
15 de março, 2016
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