Estamos
cercados por elas, as mentiras. Femininas (não existe os "mentiros"),
traiçoeiras, sinuosas, às vezes muito más; outras, até que de salvaguarda,
compreensíveis. Elas podem enganar, iludir, e até serem comidas, como as
mentirinhas que somem em nossas bocas assim que as emitimos, ou os biscoitinhos
que comemos bebendo um bom café. Mas a mentira traz verdades; uma delas, a que
tem perna curta, nunca vai muito longe.
Dizem
que todo dia mentimos, todos nós, pelo menos alguma coisa, nem que seja, creio,
para nós mesmos. Mas como a gente mente que isso é verdade, há um dia no ano em
que ela se libera, festejada, repetida, criada, se glorifica e, inclusive,
podem ser geradas aquelas mentiras bem grandes, irreais. O alvo dela pode ficar
bravo, pode ficar surpreso, ou mesmo rir muito ao reparar na esparrela do
Primeiro de Abril.
Adorei
o que o Wikipédia traz sobre o Dia da Mentira - ou Dia das petas, Dia dos
tolos, ou Dia dos bobos. Sobre ela propriamente dita: "Mentira é o nome
dado às afirmações ou negações falsas ditas por alguém que sabe (ou suspeita)
de tal falsidade, e na maioria das vezes espera que seus ouvintes acreditem nos
dizeres. Dizeres falsos quando não se sabe de tal falsidade e/ou se acredita
que sejam verdade, não são considerados mentira, mas sim erros".
Leu?
Lembrou de algo, de alguém, da política? Entendeu porque estou tocando nesse
assunto aproveitando o toque para chamar sua atenção? Leia de novo. Veja se não
é exatamente o que está rolando nessa crise que nos desgoverna. Todos mentindo
para nós. Não é de hoje. Por isso nossos sonhos parecem sempre estar à nossa
frente - sonhos tem pernas longas.
Os
que estão aí mentem para permanecer grudados e continuar construindo castelos
onde o pé de feijão acabou com a fome, com os miseráveis, com as injustiças, e
juram (sim, quem mente jura muito, repara, e se já tem de dizer que jura...)
que nesse reino todos lhes deveriam ser gratos, cordatos e segui-los tocando
bumbo e os adorando, incensando. E a flauta toca e um monte vai atrás, enganados
como na fábula.
Eles
estão insistentes. Insistem em afirmar que é golpe, o que será amplamente
votado, decidido, esmiuçado - tudo dentro da lei que ainda tem gente que presta
observando esse processo. Gatos pingados, certo, mas em posições chave e de salvaguarda
da ordem democrática.
Se
todos tivessem o poder de ler o futuro, seja na bola de cristal, na borra do
café, nas cartas ou búzios veriam que está em andamento um plano urdido,
preparado com um requinte típico dos tratantes, os que vivem das mentiras. As
fogosas mentiras estão sendo misturadas às Verdades, essas senhoras vetustas
que sempre encobrem parte de seus corpos com as dúvidas. Misturadas, verdades e
mentiras podem entrar em ebulição.
Na
palma de nossas mãos, os riscos. Pesquisas, que são feitas justamente para
revelar posições mais próximas da verdade, mostram que o que se quer agora é
mudança. Para o quê, vamos ver.
Talvez
desmorone tudo, também é verdade. Mas quem não arrisca, não petisca, me perdoem
achar essa palavra que já vem com um partido sinistro dentro.
Nascemos
e vivemos mesmo cercados por mentiras. É Papai Noel, Bicho Papão, que seremos
felizes e realizados, que podemos ser como bem entendemos, que somos livres,
fora os que nos ensinam, a nós, mulheres. Que a Justiça prevalece. Que a
imprensa é imparcial. Tá na cara que são mentiras deslavadas.
Quer
verdades? Exemplos: banco não dá nada para ninguém, todos têm culpa no
cartório, muitos se vendem por 30 dinheiros, por um cabide de emprego, alguns
acreditam mesmo em mirabolantes planos de poder latino-americanos.
Tem
uma frase de Churchill sobre a mentira, e que me lembrou muito a carta mandada
às embaixadas dizendo que está sendo tramado um golpe no país e aquela
entrevista ridícula que a presidente concedeu aos correspondentes estrangeiros.
"Uma mentira dá uma volta inteira ao mundo antes mesmo de a verdade ter
oportunidade de se vestir".
Certo.
O problema é que eles mentem tão mal que a verdade já está correndo o mundo.
Nem precisa mais ser submetida ao detector de mentiras, hoje tão desenvolvido.
Já em 1945 seriam pegos pelo pesquisador John Reid, que desenvolveu o primeiro
monitor de movimento para a cadeira, e que media as reações detectando-as. As
cadeiras estão de tal forma se mexendo hoje, querendo depor alguns traseiros,
que estourariam o aparelho do cientista.
Marli
Gonçalves, SP, esperando abril, 2016
Segunda-feira,
28 de março, 2016
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