O Estado de S.Paulo =
A tática dos lulopetistas de acusar os adversários políticos de
praticar as malfeitorias que eles próprios cometem é sobejamente conhecida, mas
chega a ser desconcertante o caradurismo da operação abafa que suas lideranças
estão tentando instaurar diante da iminência do julgamento do processo do
mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Temerosa de que a Suprema Corte
venha a confirmar a existência do maior escândalo de corrupção da história da
República, a cúpula petista tenta por todos os meios - inclusive a pressão
sobre os ministros do STF - desqualificar as acusações que pesam sobre os 38
réus do processo e, por meio das mais deslavadas chicanas, provocar a
postergação do julgamento para 2013.
Com isso estariam os petistas, no mínimo,
se poupando de maior desgaste político em ano eleitoral e permitindo a
prescrição de muitas das denúncias.
A operação abafa lulopetista se desenvolve em dois planos: o político,
com a tentativa de desqualificar perante a opinião pública as acusações que
pesam sobre os mensaleiros, sob o argumento cínico de que eles fizeram o que
"todo mundo faz"; e o jurídico, técnico, no qual procuram demonstrar
tanto a existência de vícios processuais que precisam ser corrigidos quanto a
inexistência de provas suficientes contra réus como o notório José Dirceu.
Para demonstrar o que todo mundo sabe - que corruptos existem em todo
canto - os petistas assumiram até mesmo o risco de apoiar a CPI do Cachoeira,
que está sendo constituída para investigar o envolvimento do contraventor
goiano Carlinhos Cachoeira com governantes e políticos. Pretendem, é claro,
atingir o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, e fazer barulho em torno
do envolvimento do senador oposicionista Demóstenes Torres com os negócios do
bicheiro.
E não se pejam de alegar que os principais veículos de comunicação do
País estão envolvidos - ora vejam - numa operação abafa destinada a acobertar
os malfeitos do desmoralizado senador goiano.
A direção do partido foi muito longe, muito depressa. Tanto que a
presidente Dilma Rousseff, na sexta-feira, queixou-se da precipitação e dos
termos da nota oficial do PT e chegou a pedir a Lula que não jogue mais lenha
na fogueira.
Como se sabe, Lula não vê a hora de destruir politicamente o seu
desafeto Marconi Perillo. Dilma, no entanto, se preocupa com os respingos de
lama que a CPI certamente jogará no governo que preside.
Os petistas apressados tentam confundir delitos diferentes cometidos
por gente da mesma espécie. O caso Demóstenes é uma coisa - e os culpados
precisam ser punidos -, enquanto o mensalão é outra coisa - e os culpados
precisam ser igualmente punidos.
Os dois casos têm origem na mesma cultura que
leva à apropriação indébita dos bens públicos e à desmoralização das
instituições. Mas são delitos que precisam ser examinados e julgados, cada um a
seu turno.
No que diz respeito ao STF, os petistas confiam, sempre movidos por seu
enraizado sentimento de patota, no fato de que a maioria dos atuais ministros
foi nomeada por Lula e Dilma.
É uma expectativa que não honra a tradição de
absoluta isenção partidária com que os juízes da Suprema Corte historicamente
se comportam no desempenho de suas altas responsabilidades.
Mas, a julgar pelo
que circula na área do partido do governo, o próprio Lula estaria empenhado em
fazer pressão sobre os ministros, já que é o maior interessado em evitar que a
existência do maior escândalo de corrupção de seu governo seja confirmada pela
Suprema Corte.
De qualquer modo, se já não bastassem os reiterados exemplos de rigor
lógico e técnico em seus julgamentos - como destacamos recentemente em
editorial sobre a decisão de que não constitui crime o aborto de fetos
anencéfalos -, tudo indica que o STF está convencido de que é mais do que
chegada a hora de se pronunciar sobre o escândalo do mensalão, conforme revelou
o ministro Carlos Ayres Britto, que na próxima quinta-feira assume a
presidência do STF.
"É preciso julgar com brevidade, porque há o risco de
prescrição", disse ele. Para tanto, o processo precisa ser julgado até o
dia 6 de julho, para evitar que a decisão final da Corte só venha a ser
proferida no próximo ano.
Terça - feira 17/4/
2012 ás 20:45h
Postado pelo Editor
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