Presidente está perto de sacar o
cartão vermelho; vice-presidentes Fábio Cleto, Geddel Vieira Lima, do PMDB, e
Márcio Percival e Marcos Vasconcelos, ligados ao PT, são candidatos a sair;
crise de R$ 1 bi de títulos podres, aumento do rombo do PanAmericano,
destinação obscura do FGTS e troca pública de acusações pesam contra eles
A presidente
Dilma Rousseff está perto de assoprar o apito e puxar o cartão vermelho para
uma boa parte da alta cúpula da Caixa Econômica Federal. As brigas públicas em
torno de uma série de operações mal realizadas tornaram a instituição um alvo
de críticas sobre a ingerência política numa estrutura que deveria ser
eminentemente técnica. O loteamento de cargos da direção da Caixa entre
apadrinhados do PT e do PMDB na prática se tornou uma grande barafunda. Nos
últimos tempos, as brigas se multiplicam pela imprensa em troca de acusações
pela responsabilidade por operações que já vão causando prejuízos bilionários à
própria Caixa.
A desestabilização
do equilíbrio político começou logo no fim de 2009, com a crise aberta pela
compra do banco PanAmericano que, soube-se mais tarde, já estava completamente
quebrado quando o banco público adquiriu 35% dele por R$ 740 milhões. Neste
exato momento, com a Caixa participando de sua gestão, descobre-se no
PanAmericano mais uma falcatrua bilionária em torno de títulos falsos que podem
somar R$ 5,4 bilhões. A notícia circula no mesmo momento em que crescem os
indícios de que foi também a própria Caixa que vacilou no caso da venda de
outro R$ 1 bilhão em títulos da própria instituição, lastreados pelo FCVS. Os
papéis foram colocados no mercado com aprovação da consultoria KPMG e com a
chancela da Caixa, mas descobriu-se que eles eram onerados. Boa parte deles foi
comercializado com outras instituições, como o Fundo de Pensão dos Correios
(Postalis) e o Banco Multiplic, durante uma pane no sistema eletrônico da Caixa
que agora está sob suspeita.
O caso dos
títulos onerados atinge diretamente a área sob controle do vice-presidente de
Fundos de Governo e Loterias, Fábio Cleto, apadrinhado do PMDB. Também pode
haver respingos para a área do vice-presidente de Gestão de Risco, Marcos
Vansconcelos, ligado ao PT. A compra do PanAmericano, por outro lado, se deu
sob a seara do vice-presidente de Participações, Marcio Percival, também da ala
petista. Cada um ao seu tempo, ambos já foram repreendidos. Cleto chegou até
mesmo, na semana, a ser dado como demitido, mas foi seguro por uma pesada
articulação de seus amigos no PMDB, liderados pelo vice-presidente de Pessoa
Jurídica da Caixa, Geddel Vieira Lima. Ele é mais um a contribuir para a luta
interna da Caixa, sendo rigoroso com projetos que interessam diretamente ao PT.
Um deles, a venda, pelo governo da Bahia, do direito à administração das contas
dos funcionários públicos, mereceu de Geddel a inclusão de oito emendas e uma
série de críticas públicas ao governador Jaques Wagner, do PT. A defesa de
Cleto é compreensível. Ele faz parte do Conselho Curador do Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço, que tem R$ 42 bilhões em verbas para aplicar em 2012. É
ali, por meio do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS) que o PMDB pretende
direcionar investimentos para obras da Copa do Mundo, o que pode beneficiar
governadores do partido nos estados-sede.
Cleto, em
razão da evolução do caso dos títulos onerados, parece ser o elo mais frágil
dessa corrente, e pode ser o primeiro a cair. Mas na lei de compensações da
política, será difícil que a cabeça dele não corresponda a pelo menos uma do
lado do PT. A depender do humor da presidente, que vem se surpreendendo, nos
últimos dez dias, com o recrudescimento da briga na Caixa, outros mais podem
entrar na roda. Forte, aparentemente, está o presidente Jorge Hereda, a quem
Dilma prestigia em razão de ter sido o responsável pela implantação do programa
Minha Casa, Minha Viva, administrado pela CEF. Mexer nele seria arriscar demais
numa área que, até aqui, perto dos problemas bilionários com títulos, só tem
dado boas notícias para o governo.
Quarta –
feira. 21/12/2011 às 14:05
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