Seria
cômico, não fosse trágico. No Brasil desses tempos de faxina ética, até
quem deveria ser varrido para o lixo da história está conseguindo posar de
gari com pinta de herói. E pelo menos dois desses casos vem de Brasília, na órbita do governo do Distrito
Federal.
Primeiro apareceu Durval Barbosa, velho quadro da administração do tristemente
famoso governador Joaquim Roriz. Sempre partícipe do alto
escalão do GDF,
uma posição privilegiada tanto para observar, tomar parte ou denunciar
malfeitos, ele permaneceu mudo por anos a fio.
Quando Roriz
deixou o poder, Barbosa passou a agir como um verdadeiro espião da administração do sucessor
José Roberto Arruda, gravando as cenas de distribuição de propina em que
ele próprio, Barbosa, era o corruptor. Um comportamento diligente que, se ele
teve durante o governo de Roriz, ainda não contou para ninguém. O
certo é que, mesmo admitindo ser um dos pivôs do propinoduto, Barbosa valeu-se do escudo protetor
da legislação de delação premiada, fez a sua cena e retirou-se, incólume. Não
parece justo, mas é assim que as coisas estão.
Agora, de
maneira bastante atabalhoada, o que só fez aumentar a repercussão de seu gesto,
o PM João Dias igualmente tenta disparar sua carga no mesmo
alvo. Numa atitude inédita na história global da corrupção, cujo início remonta
ao período antes
de Cristo, Dias procurou a maneira mais espalhafatosa que se tem noticia
para entrar numa sede de governo.
Sem audiência marcada e aos gritos, na
terça-feira 6, ele apareceu na sede do GDF com uma mala na qual carregava R$ 159
mil, agrediu duas secretárias, quebrou um dedo ao enfrentar a segurança e, arrestado, saiu
dizendo que
só queria devolver uma propina que teria sido recebida, um dia antes, do secretário
de Governo.
É difícil
acreditar que alguém, e ainda mais dessa maneira, tente devolver dinheiro roubado recebido das mãos
de outrem. Mas, vá lá, arrependimentos acontecem. A intenção declarada, porém,
era a de criar provas contra o secretário. Nesse caso, é preciso ser, além de
louco, muito burro para acreditar que, dessa maneira, as provas seriam
consubstanciadas.
Com as
facilidades tecnológicas dos dias atuais, Dias poderia ter gravado de diferentes
ângulos a cena que disse ter existido. Graças a seus bons relacionamentos na
mídia, que passou a alimentar no episódio da derrubada do ministro do Esporte,
Orlando Silva,
mesmo após ter sido beneficiado, com sua ONG, de convênios que renderam R$ 2,6
milhões em repasses, ele poderia ter combinado uma campana de jornalistas. Nesse caso, logo
após pegar a mala que alega ter pego, ele poderia abri-la diante do fotógrafo
acantonado,
levar o profissional imediatamente ao corruptor e, de quebra, ganhar novos
espaços a cores como atuante faxineiro.
Não, em
lugar dessas e outras alternativas, Dias preferiu um caminho que sabia
impossível, o que resultou em sua prisão. Apesar de toda a trama, até aqui,
resultar numa grande história mal contada, ele já recuperou parte de seu status
de denunciador
de corruptos. O site da revista Veja, na tarde da quarta 7, poucas horas depois
de ele ter sido
solto, já divulgava novas afirmações do próprio
Dias. Ele aproveitou para ampliar seu alvo, anunciando ter
participado de
um esquema de captação ilegal de dinheiro para a campanha eleitoral do então
candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006.
Dias,
ex-beneficiário de repasses milionários do Ministério do Esporte,
e pelo comportamento tresloucado desta semana, não tem credibilidade pessoal
para pendurar uma conta no açougue mais próximo à sua residência. Para
disparar ataques sobre um ex-presidente da República, no entanto,
ele parece à revista Veja a fonte mais crível do planeta.
Não inspira desconfiança, não
demanda checagem sobre o que diz, nem sequer desperta a ordem de se ouvir o
outro lado,
justamente o que ele ataca. Nada disso. Ele aciona sua descarga e tudo desce,
online, ao público. A verdade é que muita coisa cheira muito mal nessa história
muito mal contada.
“O PM João
Dias teve sua prisão relaxada na noite desta quinta feira (8/12)”
Quinta – feira 08 de Dezembro de 2011 às 22:24h
Postado pelo Editor
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