No início do mês de julho, pouco depois de pedir ao Supremo
Tribunal Federal a condenação de 36 dos 38 réus do processo do mensalão, o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, estimava que a corte poderia
acolher as acusações e julgar a matéria ainda em 2011 —"ou então no início
de 2012".
O otimismo de Gurgel foi sepultado ontem pelo ministro
Ricardo Lewandowski, do STF, em declarações nas quais afirma que o caso
dificilmente será apreciado antes do final de 2012.
Passados mais de seis anos desde a bombástica entrevista à
Folha, em que Roberto Jefferson, então presidente do PTB, denunciou o
escândalo, a sociedade vê-se condenada a mais um período de espera até que a
Justiça decida-se quanto às acusações de formação de quadrilha, corrupção ativa
e desvio de verba pública que pesam sobre nomes como o ex-ministro José Dirceu
e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
A morosidade ganha contornos mais exasperantes ao
confirmar-se, na avaliação de Lewandowski, seus efeitos danosos sobre a
eventual condenação de alguns dos suspeitos —que, graças à demora, poderão ser
contemplados com a prescrição de penas. É o típico caso em que a Justiça tarda
e falha.
Para que o STF possa julgar o mérito do mensalão, é
preciso, antes, que o relator Joaquim Barbosa —celebrizado por ausências em
razão de problemas ortopédicos— entregue seu parecer. A seguir, caberá ao
próprio Lewandowski revisar, como declarou, "volume por volume" do
caudaloso relatório. Só então o tribunal estará apto a marcar uma data para o
julgamento.
Enquanto os trâmites se estendem, vai-se assistindo ao
prolongamento da cínica pantomima, encenada pela cúpula petista e seu coro de
militantes e apaniguados, com o objetivo de transformar o caso num fantasioso
"golpe" contra os probos companheiros que o Ministério Público
classificou de "quadrilha".
A campanha diversionista dissemina a versão de que o
esquema simplesmente não existiu —teria havido, no máximo, o "normal"
aproveitamento de sobras de campanha.
Embora chame a atenção que um presidente da República
defenda- se de acusações de corrupção em seu governo confessando,
impavidamente, a prática de sonegação fiscal e o uso de caixa dois durante o
processo eleitoral, foi esse o subterfúgio adotado por Luiz Inácio Lula da
Silva para tentar encobrir as evidências que se aproximavam perigosamente de
seu gabinete e reescrever a história.
Ensaiado no PSDB mineiro e aperfeiçoado no PT de Brasília,
o mensalão é um desses episódios cujo esclarecimento parece despertar pouco
entusiasmo no mundo político. Não surpreende que ainda permaneça inconcluso,
envolto em manto de impunidade.
Fonte: Jornal
Folha de São Paulo
Quinta – feira
15/12/2011 ás 16:55
Postado pelo Editor
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