O
número de juízes e desembargadores investigados bateu recorde em 2013: de
acordo com levantamento feito pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) a pedido
do site de VEJA, neste ano foram abertos 24 processos administrativos públicos
(PADs) contra magistrados de todo o país – o que equivale, em média, a uma nova
ação a cada quinze dias. O número é o maior desde 2005, quando o conselho foi
criado.
Em relação ao ano passado, o CNJ mais do que dobrou a quantidade de novos processos: passou de onze para 24. Entre 2006 e 2012, o conselho registrou uma média anual de dez investigações iniciadas, com números que variam de dois casos, em 2006, a dezoito, em 2010.
Os
processos administrativos são instaurados após serem detectadas condutas
incompatíveis com a função de juiz. Na lista de crimes praticados por
magistrados estão enriquecimento ilícito, venda de sentenças e privilégios a
poderosos.
O
CNJ encerrou os trabalhos no último dia 17 com a abertura de processo contra
três magistrados de Rondônia sobre o suposto desvio de mais de 400 milhões de
reais no pagamento de precatórios – dívidas que União, Estados e municípios
adquiriram por terem sido condenados em decisões definitivas. O desembargador
Vulmar de Araújo Coêlho Júnior e os juízes do trabalho Domingos Sávio Gomes e
Isabel Carla Piacentini teriam desviado as cifras milionárias e entregá-las a
advogados e dirigentes sindicais. De acordo com a denúncia, o desembargador
também é acusado de ameaçar servidores para evitar que delatassem o
esquema.
Outro
caso notório foi o do ex-presidente do Tribunal de Justiça do Paraná Clayton
Camargo. O magistrado acumula denúncias: venda de sentenças, enriquecimento
ilícito e tráfico de influência – teria ajudado a eleger seu filho para o cargo
de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. O desembargador renunciou ao
mandato na corte em setembro.
“Nunca
houve tantos processos como agora e isso impressiona mundo afora. Eu estive na
França e eles ficaram abismados com os nossos números. Lá faz 20 anos que eles
não afastam um magistrado por corrupção”, afirma o corregedor nacional de
Justiça, ministro Francisco Falcão (Foto). “A verdade é que os magistrados têm
a certeza da impunidade. É uma questão cultural. Esses casos não acontecem em
outros países porque lá fora as pessoas são presas”, continua.
“Em
qualquer profissão nós percebemos desvios, mas quando envolvem um juiz choca
mais. Eles são encarregados de julgar, têm uma tarefa central em que dão a
última palavra sobre qualquer coisa. O fato de eles mesmos serem os
responsáveis pelas infrações é algo mais difícil de ser aceito”, afirma Maria
Tereza Sadek, diretora do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais
(CEBEPEJ) e professora de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo
(USP). A cientista política reforça que “as notícias de juízes que não
desempenham a função corretamente são tão velhas quanto a criação do poder
Judiciário”, mas que historicamente as denúncias avançavam.
Marcela Mattos, VEJA.
Segunda-feira,
23 de dezembro, 2013.
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