O Uruguai, que
já permitia o consumo de maconha, legalizou a produção e a venda da droga. A
nova lei foi aprovada no Senado por 16 votos a 13 e deverá entrar em vigor no
primeiro semestre de 2014. Pela nova legislação, os uruguaios e estrangeiros
que residem no país e têm mais de 18 anos poderão comprar até 40 gramas da erva
por mês em farmácias credenciadas pelo governo. Os defensores da liberação,
armados de uma ingenuidade cortante, acreditam que a legalização reduzirá a
ação dos traficantes. Mas ocultam uma premissa essencial no terrível silogismo
da dependência química: a compulsividade. O usuário, por óbvio, não ficará no
limite legal. O tráfico, infelizmente, não vai desaparecer.
A psiquiatra
mexicana Nora Volkow é uma referência na pesquisa da dependência química no
mundo. Foi quem primeiro usou a tomografia para comprovar as consequências do
uso de drogas no cérebro. Desde 2003 na direção do Instituto Nacional sobre
Abuso de Drogas, nos Estados Unidos, Volkow é uma voz respeitada. No momento em
que recrudesce a campanha para a descriminalização das drogas, suas palavras
são uma forte estocada nos argumentos politicamente corretos.
A cientista foi
entrevistada pela revista Veja, em março de 2010. A revista trouxe à baila um
crime que chocou a sociedade. O cartunista Glauco Villas Boas e seu filho foram
mortos por um jovem com sintomas de esquizofrenia e que usava constantemente
maconha e dimetiltriptamina (DMT), na forma de um chá conhecido como Santo
Daime. "Que efeito essas drogas têm sobre um cérebro esquizofrênico?"
A resposta foi clara e direta: "Portadores de esquizofrenia têm propensão
à paranoia, e tanto a maconha quanto a DMT (presente no chá do Santo Daime)
agravam esse sintoma, além de aumentarem a profundidade e a frequência das
alucinações. Drogas que produzem psicoses por si próprias, como metanfetamina,
maconha e LSD, podem piorar a doença mental de uma forma abrupta e veloz",
sublinhou a pesquisadora.
Quer dizer, a
descriminalização das drogas facilitaria o consumo das substâncias. Aplainado o
caminho de acesso às drogas, os portadores de esquizofrenia teriam, em
princípio, maior probabilidade de surtar e, consequentemente, de praticar
crimes e ações antissociais. Ao que tudo indica, foi o que aconteceu com o
jovem assassino do cartunista. A suposição, muito razoável, é um tiro de morte
no discurso da ingenuidade.
Além disso, a
maconha, droga glamourizada pelos defensores da descriminalização, é
frequentemente a porta de entrada para outras drogas. "Há quem veja a maconha
como uma droga inofensiva", diz Nora Volkow. "Trata-se de um erro.
Comprovadamente, a maconha tem efeitos bastante danosos. Ela pode bloquear
receptores neurais muito importantes." Pode, efetivamente, causar
ansiedade, perda de memória, depressão e surtos psicóticos. Não dá para
entender, portanto, o recorrente empenho de descriminalização. Também não serve
o falso argumento de que é preciso evitar a punição do usuário. Nenhum juiz,
hoje em dia, determina a prisão de um jovem por usar maconha. A prisão, quando
ocorre, está ligada à prática de delitos que derivam da dependência química:
roubo, furto, pequeno tráfico, etc. Na maioria dos casos, de acordo com a Lei
n.º 9.099/95, há aplicação de penas alternativas, tais como prestação de
serviços à comunidade e eventuais multas no caso de réu primário.
Caso adotássemos
os princípios defendidos pelos lobistas da liberação, o Brasil estaria
entrando, com o costumeiro atraso, na canoa furada da experiência europeia.
Todos, menos os ingênuos, sabem que, assim como não existe meia gravidez,
também não há meia dependência. É raro encontrar um consumidor ocasional.
Existe, sim, usuário iniciante, mas que muito cedo se transforma em dependente
crônico. Afinal, a compulsão é a principal característica do adicto. Um cigarro
da "inofensiva" maconha preconizada pelos arautos da liberação pode
ser o passaporte para uma overdose de cocaína. Não estou falando de teorias,
mas da realidade cotidiana e dramática de muitos dependentes. Transcrevo, caro
leitor, o depoimento de um dependente químico. Ele fala com a experiência de
quem esteve no fundo do poço.
As drogas estão
matando a juventude. A dependência química não admite discursos ingênuos, mas
ações firmes e investimentos na prevenção e na recuperação de dependentes.
A todos, um feliz Natal!
CARLOS ALBERTO
DI FRANCO - O Estado de S.Paulo
Segunda-feira, 23 de dezembro,
2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário