A condenação dos
ex-presidentes nacionais do PT José Dirceu e José Genoino por corrupção e
formação de quadrilha, todavia, está desafiando a comunhão de convicções e
ideais entre a cúpula e as bases petistas, que tem sido a regra na história do
partido desde sua fundação. Desde que a maioria dos ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF) resistiu às constrangedoras pressões do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva para adiar o julgamento do escândalo de corrupção na
compra de apoio parlamentar para seu primeiro governo, o famigerado mensalão, a
cúpula petista tem tentado evitar que esses senhores respondam perante a
Justiça pelos crimes comuns que cometeram.
O argumento de que o processo, transmitido
pela televisão, influiria negativamente nas eleições desmoronou ante a sólida
sensatez da maioria do colegiado. E, depois, sob o peso dos fatos, pois não
houve influência alguma da exposição das vísceras do partido no poder nas
disputas eleitorais municipais do ano passado. Ao longo do julgamento, a
direção do PT vendeu a fantasia do "caixa 2" e, com as condenações e
depois das ordens de prisão, passou a desqualificar o STF.
Os 11 ministros
reunidos passaram a representar o espírito revanchista da direita desalojada do
poder pelos bravos companheiros de jornada e o Poder Judiciário teria assumido
o papel de destruidor das conquistas populares obtidas nos oito anos de mandato
de Lula e quase três de Dilma.
Tal argumento
não resiste, porém, nem aos fatos nem à lógica. Oito desses ministros foram
nomeados pelos presidentes petistas. E tanto o presidente da Corte à época do
julgamento, Ayres Britto, quanto o relator que foi alçado à presidência,
Joaquim Barbosa, votaram no PT. O primeiro, que teve um comportamento exemplar
no processo, chegou a fazer parte das bases, da aguerrida militância petista.
O coro de
desmanche moral dos ministros do STF, puxado por Rui Falcão, tem encontrado eco
nos diretórios regionais escolhidos no mesmo processo eleitoral. Exemplo
notório disso foi o tom dos discursos de todos os oradores que prestigiaram a
posse do prefeito de Maricá, Washington Quaquá, no comando do PT no Estado do
Rio. Do próprio Quaquá à representante da bancada federal fluminense do PT,
Benedita da Silva, eles manifestaram irrestrita solidariedade aos companheiros
apenados e presos e execraram a "injustiça" do Supremo. Dirceu,
Genoino e Delúbio Soares - ex-tesoureiro do partido que lidera a aliança
governista federal - foram chamados de "heróis" e
"guerreiros", vítimas da direita e da grande imprensa.
Os três se dizem
"presos políticos", mas, de fato, como dizia o saudoso comentarista
Joelmir Beting, não passam de "políticos presos". A diferença, que os
discursos de Quaquá e Benedita não conseguem encobrir, é que a primeira
denominação define condenados que ousam desafiar o poder estabelecido e a
segunda, homens públicos que cumprem pena por crimes comuns, como furto e
formação de bando (daí o substantivo bandido).
A lição do gênio
do marketing do nazismo, Josef Goebbels, segundo a qual a insistência da
propaganda pode transformar uma mentira em verdade, contudo, não parece estar
surtindo efeito nessa chantagem subversiva da direção do PT contra a cúpula do
Judiciário.
O Datafolha
ouviu 4.557 pessoas em 194 municípios brasileiros. Entre elas, 86% acharam que
o relator do mensalão e presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, agiu bem ao
mandar prender os mensaleiros condenados no feriado de 15 de novembro, dia da
Proclamação da República. Somente esse número já poderia bastar para a cúpula
petista pensar duas vezes antes de prosseguir em sua teimosa e mendaz campanha
para satanizar o Poder Judiciário, sobre cujas costas pesa a responsabilidade
da manutenção de regras sem as quais a democracia, que é o império da lei,
sucumbiria. O interessante nessa pesquisa é que 87% dos entrevistados que se
disseram "adeptos do PT" manifestaram opinião idêntica.
JOSÉ NÊUMANNE - O Estado de
S.Paulo
Quarta-feira, 04 de dezembro 2013.
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