É sombrio o
cenário traçado pela 69.ª Assembleia-Geral da Sociedade Interamericana de
Imprensa (SIP). Os dirigentes da entidade, que reúne as grandes empresas
jornalísticas das Américas, destacaram que a liberdade de imprensa na América
Latina experimentou, no último semestre, um período particularmente grave de
violência e pressão. O presidente da SIP, Jaime Mantilla, resumiu o problema ao
dizer que "os governos latino-americanos têm se dedicado a semear o ódio e
o medo", enfatizando os casos de Argentina, Equador, Venezuela e Cuba.
Nesses países,
como se sabe, os dirigentes não medem esforços para silenciar a imprensa que
lhes é crítica. Mas, com exceção de Cuba, onde vigora uma ditadura de fato e a
censura é explícita, há um esforço para dissimular essa perseguição, por meio
de leis cujos alegados objetivos são, entre outros, "democratizar a
mídia", "proteger contra o linchamento midiático" e evitar
"atividade inimiga interna e externa".
Trata-se do
Centro Estratégico de Segurança e Proteção da Pátria. Por meio dessa nova
instituição, o governo pode "declarar como reservada, classificada ou de
divulgação limitada qualquer informação, fato ou circunstância" que a
entidade julgar de seu interesse.
Segundo a SIP,
essas iniciativas indicam uma tentativa de transformar a atividade jornalística
em "serviço de utilidade pública", para colocá-la sob a tutela do
Estado. Um exemplo é a Argentina, cujo governo quer controlar a fabricação e a
venda de papel para jornal, a fim de submeter as empresas jornalísticas a suas
exigências. A presidente Cristina Kirchner chegou a dizer que a imprensa
argentina deveria "adquirir consciência nacional e defender os interesses
do país".
É esse tipo de
raciocínio que preside a campanha que o PT faz para "democratizar" a
mídia. Na última vez em que se pronunciou oficialmente sobre o assunto, o
partido declarou que o "oligopólio" que controla a mídia no Brasil
"é um dos mais fortes obstáculos, nos dias de hoje, à transformação da
realidade do nosso país". A ideia petista, está claro, é fazer da imprensa
mera correia de transmissão em seu projeto de poder.
A esse
propósito, convém prestar atenção no alerta do presidente da Comissão de
Liberdade de Imprensa da SIP, Claudio Polillo. Para ele, as recentes tentativas
de manietar a imprensa fazem parte de "um plano de demolição das
democracias para sustentar líderes messiânicos que querem se perpetuar no
poder".
O Estado de S.Paulo
Quarta-feira 23 de outubro 2013
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