Quando a gente pensa que já se
chegou ao limite da estupidez, constata-se que não. Sempre se pode ir adiante.
Neste sábado, houve novas ações de terrorismo em frente ao Instituto Royal, em
São Roque, interior de São Paulo. Um grupo estimado em 200 pessoas, sob o
comando dos black blocs, botou fogo em um veículo da PM e em dois da TV TEM,
afiliada da TV Globo. Não sei se alguém foi preso. Ainda que tenha sido, a
Justiça logo manda soltar. Eu entendo: entre, de um lado, a lei associada à
ciência que salva vidas humanas e, de outro, a defesa terrorista dos animais,
não vejo por que um juiz deva hesitar. É claro que deve ficar com a segunda
alternativa para não queimar a reputação nas redes sociais.
Podem chiar à vontade. Não dou a
mínima. Nesse blog, vagabundos que agem dessa maneira não serão jamais chamados
de “manifestantes”. Manifestantes, certos ou errados, têm opiniões, causas,
visão de mundo e dão um jeito de expressá-los e de tentar convencer outras
pessoas. Mas o fazem de forma pacífica.
Incendiar um carro da PM, num
regime democrático, corresponde a uma agressão ao estado democrático e de
direito. Incendiar veículos da imprensa significa uma agressão grave à
liberdade de expressão.
Não vou cansar de repetir esta
verdade insofismável, incontornável: importantes setores da imprensa são, em
grande parte, responsáveis por este estado de coisas. Cederam à pressão
organizada por malucos nas redes sociais, que se comportam como juízes da lei,
da imprensa e dos fatos. O jornalismo, no mais das vezes, acaba sendo cordato
com os terroristas. No fim das contas, há quem acredite que não se deve
expressar muita indignação quando dois carros de uma emissora são incendiados
porque isso seria uma forma de corporativismo. O terror, em suma, acabou se
tornando “um lado” respeitável, a ser ouvido.
O vocabulário a que a imprensa
pode recorrer é asqueroso. Terrorista é chamado de “manifestante”; invasão de
um laboratório pode ser tratada como “ocupação”; roubar animais vira
“recolher”.
Mais um pouco, e já ninguém
chamará o garçom ou o maître para dizer, educada e discretamente, que o
cozinheiro exagerou no sal ou que o tofu (carne nunca!) não está no ponto (seja
lá como se prepare isso…). Não! O negócio é lançar o prato contra a parede, dar
um murro na boca do atendente, fazer um comício, botar fogo no restaurante,
documentar tudo com um celular e depois postar o filme nas redes sociais em nome
dos clientes indignados. A imprensa, fiel a seus compromissos éticos — ser
isenta, apartidária e independente —, ouvirá um lado, ouvirá outro lado,
sugerirá que o melhor é a paz, mas compreenderá, também, o lado dos exaltados,
decretando que esse negócio de civilização e barbárie é mera questão de ponto
de vista.
Por
Reinaldo Azevedo- No Veja.
Sábado
19 de outubro 2013
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