O nome conta a
história pela metade: minirreforma. As mudanças nas regras eleitorais propostas
pela Câmara dos Deputados e ainda a serem examinadas pelo Senado são realmente
mínimas, mas de reforma não têm nada.
Seria um caso
típico de irrelevância aguda não fosse, sobretudo, um acinte o fato de suas
excelências providenciaram alterações que transitam entre o superficial e o mais
deslavado corporativismo.
O modelo atual
está aos pandarecos, como concordam todos, representantes e representados.
Diante da falência escancarada, da insatisfação explícita da sociedade, o que
fazem os parlamentares?
Aprovam uma
serie de modificações das quais políticos e partidos serão os únicos
beneficiados e acrescentam a elas algumas perfumarias, a título de disfarce que
não disfarça coisa alguma.
À falta de
disposição de enfrentar questões realmente importantes e que alcancem a esfera
das relações entre eleitos e eleitores, os parlamentares decidiram propor um
parcelamento de dívidas eleitorais com prazo a perder de vista e mais liberdade
para que possam manipular os recursos do fundo partidário como bem lhes
convier.
Se aprovada pelo
Senado, a lei permitirá que as multas sejam pagas em até 60 vezes, sendo que
cada parcela não poderá ultrapassar 10% dos rendimentos do devedor. Fosse
pouco, passa a vigorar a seguinte regra: os repasses do dinheiro do fundo não
podem ser suspensos no segundo semestre de anos eleitorais. Em nenhuma
hipótese, o que inclui casos em que houver irregularidades.
Junto a isso, o
projeto reduz o poder de fiscalização da Justiça Eleitoral e aumenta autonomia
dos partidos para usar as verbas.
Mas, preocupados
que estão com a poluição visual das cidades e empenhados na redução dos gastos,
os deputados propõem que se proíbam a afixação de faixas, cartazes, bandeiras e
pinturas em espaços públicos ou particulares. Ah, também não podem ser usados
bonecos como peças de campanha.
E assim nossos
parlamentares dão por respondidas as demandas da sociedade no que tange ao
aperfeiçoamento do sistema político, partidário e eleitoral. Parece piada, mas
lamentavelmente não é.
Colateral. A antecipação da campanha eleitoral definitivamente não foi uma boa
jogada para o governo. Deflagrada em fevereiro, quando o ex-presidente Lula
afirmou que o projeto do PT era a reeleição de Dilma Rousseff e não a volta
dele à Presidência, a ofensiva acabou dando à oposição um espaço na imprensa
que ela não teria em tempos, digamos, "normais".
Por: Dora Kramer
Quinta-feira 24 de outubro 2013
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