"O governador Eduardo Campos teve um ganho político grande com a jogada
de mestre deste fim de semana, mas pode vir a ter, mais adiante, muitos
problemas para administrar. A começar pelo relacionamento entre os militantes
do PSB com os da Rede na organização do programa comum. Outro problema que pode
surgir é a ex-senadora Marina continuar aparecendo nas pesquisas de opinião
como potencial candidata, obtendo mais apoio do eleitorado do que ele",
diz MERVAL PEREIRA: colunista do
Globo.
Eduardo Campos fez uma jogada de
mestre, mas o relacionamento com os militantes da Rede e com a própria Marina
Silva não será simples. É o que diz Merval Pereira, em sua coluna no Globo.
Leia abaixo:
Como, ao ficar no PSDB,
desistindo do sonho de disputar mais uma eleição presidencial, o ex-governador
José Serra disse que seu objetivo era ajudar a derrotar o PT, temos uma corrida
presidencial em que o partido do governo estará desafiado tanto pela oposição à
esquerda, de dentro da base governista, quanto pela oposição oficial.
Os analistas políticos do governo
sempre consideraram que a oposição mais perigosa era a de dentro da base
governista, o que confere à nova coligação democrática um caráter de principal
obstáculo à reeleição da presidente Dilma Rousseff.
O clima do acordo entre Marina e
Eduardo Campos é de rejeição à maneira de fazer política do PT. A ex-senadora
saiu do embate pela formação do seu partido, o Rede, com o ânimo de denunciar
as manobras governamentais para barrar sua pretensão no TSE, e esse estado de
espírito coincide com o de Eduardo Campos, que acusa o PT de ter tentado com
golpes baixos tirá-lo da corrida presidencial.
Na madrugada de sexta para
sábado, a ex-senadora Marina chegou a fazer um discurso mais contundente para
seus aliados, se referindo ao perigo de métodos chavistas de fazer política
prevalecerem no Brasil, mas, na entrevista coletiva, não repetiu a
classificação, embora não a negasse. Tudo indica que o aviltamento da política
a que se refere tenha sido traduzido, no auge da emoção, pela adjetivação mais
contundente.
Os dois usaram palavras duras
ontem para criticar as tentativas do governo para tirá-los do páreo, embora
tenham evitado fazer menção direta à presidente Dilma ou ao governo. Mas as
entrelinhas do que não foi dito falam por si, como diria Marina.
Para fazer o que fez, apoiar a
candidatura do governador Eduardo Campos à presidência da República, Marina não
precisaria se filiar ao PSB. Ela fez isso com dois objetivos: criar um fato
político de impacto e estar preparada para assumir a candidatura a vice se as
negociações programáticas entre a Rede Sustentabilidade e o PSB chegarem a bom
termo.
Com isso afastou também seu maior
receio, que era o de ser apontada como uma política tradicional que estava
apenas atrás de uma legenda para se candidatar. Colocando o programa adiante
dos interesses pessoais, ela julga ter dado uma resposta aos que se preparavam
para apontar incoerência em seu comportamento político.
O governador Eduardo Campos teve
um ganho político grande com a jogada de mestre deste fim de semana, mas pode
vir a ter, mais adiante, muitos problemas para administrar. A começar pelo
relacionamento entre os militantes do PSB com os da Rede na organização do
programa comum.
Outro problema que pode surgir é
a ex-senadora Marina continuar aparecendo nas pesquisas de opinião como
potencial candidata, obtendo mais apoio do eleitorado do que ele. Como ele
controla a máquina partidária, dificilmente sua postulação será colocada em
xeque, mas haverá constrangimento político.
De qualquer maneira, foi uma
jogada de mestre de ambos, cada qual reforçando seus interesses imediatos e,
sobretudo, reforçando uma imagem de renovação da política que essa aliança
heterodoxa simboliza.
Fonte: 247
Segunda-feira 07 de outubro 2013
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